PORTÕES DA PRÁTICA BUDISTA - CHAGDUD TULKU RINPOCHE - SÍNTESE DE GISLAINE D'ASSUNPÇÃO

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PORTÕES DA PRÁTICA BUDISTA

Chagdud Tulku Rinpoche
Ed. Paramitas Ltda, 1995, Taquara – R.S


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Trabalhando com o Apego e Desejo
Para compreender como o sofrimento aparece, pratique observar sua mente. Neste espaço da mente não há problemas não há sofrimento. Então, alguma coisa prende sua atenção - uma imagem, um som, um cheiro. Sua mente se subdivide em interno e externo, “eu” e “outro” sujeito e objeto. Com a simples percepção do objeto, não há ainda nenhum problema, Porém, quando você se foca nela,  nota que é grande ou pequeno, branco ou preto, quadrado ou redondo. Então você faz um julgamento – por exemplo, se o objeto é bonito ou feio. Tendo feito esse julgamento, você reage a ele: decide que gosta ou não do objeto.
 É aí que o problema começa, pois “Eu gosto disto” conduz a “Eu quero isto”. Igualmente, “Eu não gosto disto” conduz a “Eu não quero isto”. Se gostamos de alguma coisa, se a queremos e não podemos tê-la, nós sofremos. Se a queremos, a obtemos e depois a perdemos, nós sofremos. Se não a queremos, mas não conseguimos mantê-la afastada, novamente sofremos. Nosso  sofrimento parece ocorrer por causa do objeto do nosso desejo ou aversão, mas realmente não é assim – ele ocorre porque a mente se biparte na dualidade sujeito-objeto, e fica envolvida com querer e não querer alguma coisa.
 O que temos que mudar é a mente e a maneira como ela vivencia a realidade.
 Quando começamos pela primeira vez nosso trabalho com as emoções, aplicamos o princípio de que o ferro corta o ferro, o diamante corta o diamante. Usamos o pensamento para transformar o pensamento. Um pensamento raivoso pode ter como antídoto um outro que seja compassivo, ao passo que o desejo pode ter seu antídoto na  contemplação da impermanência.
 Podemos reduzir o apego contemplando a impermanência. É certo que o objeto ao qual estamos apegados, seja qual for, irá mudar ou se perder.
 Com a redução  da autoimportância, diminui também o apego que resulta dela. Quando pomos o foco da nossa atenção fora de nós mesmos, isso nos leva, ao final, a compreender a igualdade que há entre nós e todos os demais seres. Todos querem ter felicidade; ninguém quer sofrer. O apego á nossa própria felicidade amplia-se para se tornar apego à felicidade de todos.
 Se tivermos que quer algo, então que seja nada menos do que a completa iluminação de todos os seres. Eis aí algo digno de ser desejado. Recordarmo-nos continuamente do que verdadeiramente vale a pena querer é um importante elemento da prática espiritual.
 Cada uma das emoções negativas ou venenos mentais possui uma pureza intrínseca  que não reconhecemos por estar tão acostumados à sua aparência de emoção. A verdadeira natureza dos cinco venenos – ignorância, apego, aversão, inveja e orgulho – são as cinco sabedorias.
 Se mantivermos a consciência da impermanência, então nunca seremos completamente enganados pelos fenômenos do Samsara.
 Prática espiritual não quer dizer apenas ficar sentado em uma almofada de meditação. Quando você está junto da experiência do desejo ou da raiva, bem onde a mente está ativa, é aí que você pratica, a cada momento, a cada passo da sua vida. 

Trabalhando com a Raiva e Aversão
 Apego e raiva são dois lados da mesma moeda.
 Diz-se que não há mal que se compare a raiva: por sua própria natureza, a raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade nasce dela, a raiva é uma das mais potentes forças negativas. Raiva e aversão podem levar à agressão.
Trabalhando com a Ignorância
 Ao rastrear as causas da nossa confusão e sofrimento, chegamos ao problema fundamental da nossa ignorância básica. A razão pela qual sofremos como sofremos, a razão pela qual encontramos os problemas que encontramos, a razão pela qual continuamos a vagar pelo Samsara – a existência cíclica -, é o fato de não estarmos cientes da nossa verdadeira natureza.
 Nossa vida, do nascimento à morte, é semelhante a um longo sonho. E cada sonho que temos à noite constitui um sonho dentro do sonho.
 No sonho da vida, pensamos que estamos acordados, mas, de fato, ainda estamos sonhando. Apenas ocorre que o despertador ainda não soou.
 Somos sonhadores e vivemos os sonhos curtos da noite dentro deste sonho longo da vida, dentro do sonho ainda mais longo do vir-a-ser do Samsara.
 Saber que a nossa realidade não representa toda a verdade da existência nos liberta do sofrimento. Deixamos de estar controlados, por nossos medos ou nossos apegos.
 Conhecer a verdadeira natureza da nossa experiência, e manter esses conhecimentos, é o meio para alcançarmos a iluminação. A iluminação é algo novo. Não é algo que criamos ou fazemos com que passe a existir. Iluminação significa simplesmente descobrir nossa própria natureza intrínseca, chamada de Buda.
 A sabedoria – o conhecimento da nossa verdadeira natureza – é o antídoto direto da ignorância, do desconhecimento. É a chama que debela a escuridão da nossa mente. O caminho budista nos leva a uma posição de conhecimento ligado à sabedoria, que toma o lugar do conhecimento ordinário que informa nossas atividades do dia-a-dia.

A Vida Diária como a Prática Espiritual
 É muito importante compreender a sorte que é ter um corpo humano. A maioria de nós toma a existência humana de forma ligeira, sem valorizá-la o suficiente; nós nos tornamos insensíveis  à alegria natural que é ter uma forma humana.
 Este corpo humano é um veiculo raro, e nós precisamos usá-lo bem, sem demora. A finalidade mais elevada de um nascimento humano precioso é progresso espiritual. 
 Chegar à compreensão de impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes, nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira pratica espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa transformação em nossa mente e em nosso ser. Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais.
 A aplicação da pratica espiritual na vida diária começa quando você acorda pela manha. Alegre-se por não ter morrido à noite, por saber que terá mais um dia útil pela frente – você não pode garantir que terá dois. A seguir, recorde-se da motivação correta. Em vez de se propor a ficar rico e famoso ou seguir seus próprios interesses egoístas, vá ao encontro do dia com a intenção altruísta de ajudar os outros. E renove seu compromisso de a cada manhã. 
Antes de ir dormir à noite, não pule simplesmente na cama e caia no sono. Em vez disso, passe o dia em revista. Pergunte-se “Como foi que eu me saí? Minha intenção era não ferir ninguém – eu consegui isso? Eu pretendia cultivar alegria, compaixão, amor, equanimidade – eu fiz isso?”. 
“Eu busquei desenvolver tendências positivas? Será que eu basicamente tenho sido uma pessoa virtuosa? Ou será que tenho passado a maior parte do meu tempo agindo negativamente, envolvido com atividades não-virtuosas?”. Faça-se essas perguntas de forma critica e honesta. Qual é o resultado quando você de fato confere esses dados?
 Se verificar que sua conduta deixou a desejar, não ajuda em nada você se sentir culpado ou se recriminar. O objetivo é observar o que você fez, porque suas ações nocivas poder ser purificadas. A negatividade não fica gravada no terreno da mente de forma indelével. Ela pode ser modificada. Portanto, olhe em retrospectiva. Se você enxergar defeitos e deslizes, chame por um ser de sabedoria. Você não precisa ir a um lugar especial, pois não há lugar onde a prece não seja ouvida. Não importa se você considera a perfeição como sendo Deus, Buda ou uma deidade. A perfeição absoluta propicia a você as bênçãos da purificação.
 Confesse, tendo aquele ser de sabedoria como sua testemunha, e arrependa-se sinceramente do mal que você causou, comprometendo-se a não repeti-lo. Enquanto você medita, visualize luz irradiando-se do objeto de perfeição, limpando você e purificando todos os erros do seu dia, da sua vida, de todas as vidas que você já viveu.
Quando você olha para o seu dia, pode ser que veja ter conseguido trazer felicidades aos outros. Dedique a energia positiva criada por suas ações a todos os seres, sejam eles quem forem,  seja qual for a condição em que se encontrarem, pensando, “ Possa esta virtude aliviar o sofrimento de todos os seres; possa ela lhes trazer felicidade no presente e no futuro”.
Durante o dia, verifique como está sua mente. Como está sendo meu comportamento ? Qual é minha real intenção ? Você pode realmente conhecer a mente de uma outra pessoa; a única que você conhece de verdade é a sua própria. Sempre que puder, contemple esses pensamentos: a preciosidade do nascimento humano, a impermanência, o carma de sofrimento dos outros seres. Na prática da meditação no cotidiano, trabalhamos com dois aspectos da mente: sua capacidade de raciocinar e conceitualizar - o intelecto -, e a qualidade que está além do pensamento - a natureza não conceitual e ilimitada da mente. Utilizando a faculdade racional, você contempla. Depois, deixa a mente repousar. Pense e, então, relaxe; contemple e, então relaxe. Não use um ou outro exclusivamente, mas ambos em conjunto, como as duas asas de um pássaro. 
Não é possível mudar a mente como uma hora de meditação diária. Você tem que prestar atenção a seu processo espiritual ao longo de todo dia, enquanto trabalha, joga, dorme; a mente precisa estar sempre se direcionando para a meta final da iluminação. 
Quando você está imerso nas coisas do mundo, conserve sua mente naquilo que está fazendo. Não se deixe distrair. Não pense em cem coisas ao mesmo tempo. Não fique viajando no que aconteceu ontem ou no que pode acontecer no futuro. 
Sempre se observe de forma minuciosa, reduza os pensamentos, palavras e comportamentos negativos, e aumente aqueles que são positivos. Pense com cuidado constantemente e refaça seu foco, pois você pode ficar com a mente nublada muito facilmente. O que a meditação produz é um constante recolocar do foco. Você tem que trazer de volta intenção pura vez após vez. Então, relaxa a mente para permitir um reconhecimento direto e sutil daquilo que está além de todo pensamento. 
Na tradição do budismo, há muitos ensinamentos profundos, mas o que apresentamos aqui é o néctar doce que constituem a essência de todos eles. O cultivo da bondade do coração ao longo de todo cotidiano, a prática de virtude, compaixão, equanimidade, amor e alegria - esse é o caminho da iluminação.
Os Quatro Pensamentos que Transformam a Mente
A importância dos quatro pensamentos
1- Importância da existência preciosa.
2- Impermanência.
3- Processo cármico de causa e efeito.
4- O sofrimento que permeia a existência.
 Quando meditamos sobre dois dos quatro pensamentos-em primeiro lugar, a liberdade e a oportunidade da nossa existência humana preciosa e a dificuldade de obtê-la, e, em segundo lugar, a impermanência-passamos a nos dar conta de que o nosso nascimento humano precioso é tão raro quanto o nosso tempo é curto. Essas duas contemplações ajudam a reduzir os venenos da mente e nos direcionam para a libertação.
 Meditamos sobre os dois últimos dos quatro pensamentos - o processo cármico de causa e efeito, e o sofrimento que permeia a existência cíclica. Através dessas duas contemplações, reduzimos nosso apego à felicidade convencional e experimentamos uma soltura gradativa dos laços mais sutis que nos prendem ao Samsara. 
O Primeiro Pensamento Básico: O Nascimento Humano Precioso 
O primeiro pensamento que volta a mente para Darma trata da preciosidade do nosso nascimento humano e da importância de fazermos bom uso dele. 
Quando dizemos “nascimento humano precioso”, não estamos nos referindo a uma existência humana apenas no nome, em que uma pessoa nasce, vive, morre e depois sua consciência segue para alguma outra experiência. O renascimento humano é precioso somente quando dotado de oito tipos de oportunidade de dez qualidades e condições.
 Há quatro tipos de existência humana onde falta disponibilidade suficiente para a prática. Em primeiro lugar, pode-se nascer em uma cultura denominada por visões equivocadas, a ideia de que matar ou ferir os outros é algo virtuoso ou espiritual, por exemplo. Em segundo lugar, pode-se nascer descrente quanto à espiritualidade ou religião. Em terceiro lugar, pode-se nascer numa era de trevas-uma era em que nenhum Buda se manifesta no reino humano, sob forma alguma, para oferecer ensinamentos budistas ou em qualquer outro ensinamento espiritual benéfico. Por fim, é possível que uma pessoa sofra de deficiência física ou mental que a impossibilite de ouvir ou compreender os ensinamentos.

Nosso nascimento humano precioso nos oferece enorme liberdade para praticarmos. Ele também nos confere dez qualidades e condições especiais, cinco das quais estão ligadas a quem somos, e cinco às nossas circunstâncias externas. As cinco primeiras qualidades incluem o nosso próprio corpo humano, que podem ser um veículo para iluminação; nosso nascimento em uma região onde os ensinamentos estão disponíveis. O fato de que nossas faculdades são intactas e nossa inteligência suficiente para compreendermos os ensinamentos; a predisposição cármica para nos desenvolvermos espiritualmente, em vez de desperdiçarmos esta oportunidade ou usarmos nossa vida para causarmos mal aos outros; e a receptividade ao caminho budista ou as outras tradições espirituais que propiciem benefícios em termos mais imediatos e também ao longo prazo, para nós mesmos e para os outros. 
A primeira das cinco condições pertinentes as nossas circunstâncias externas é que um Buda de fato apareceu. Caso tivéssemos nascido em universo em que nenhum Buda houvesse se manifestado, a questão da libertação sequer se proporia, porque não teríamos um exemplo histórico. Ao alcançar a iluminação em nosso reino demonstrar que isso pode ser feito, o Buda Sakiamuni ofereceu-nos uma oportunidade extraordinária. 
A segunda condição é que, ao aparecer, o Buda ensinou o Darma. Embora pudéssemos ter o exemplo histórico do Buda, sem seus ensinamentos não haveria estrada alguma a ser seguida.
 A tradição dos ensinamentos que foi preservada e transmitida ao longo da história consiste na terceira condição. 
A quarta condição decorre da presença de praticantes que alcançaram realização dos ensinamentos e representam a possibilidade de sua transmissão de forma viva. Através de seu exemplo, os ensinamentos tornam-se acessíveis a nós.
 Se não desfrutássemos de todas essas dezoito oportunidades e condições, não poderíamos nem mesmo falar sobre primeiro dos quatro pensamentos. Não poderíamos nunca preencher o verdadeiro propósito da nossa existência humana preciosa, nunca alcançar a meta de dissolver o sofrimento e criar felicidade para nós mesmos e para os outros, em sentido tanto temporário quanto último. 
Quando apreciamos a raridade do nosso nascimento humano precioso e a oportunidade que ele nos oferece, começamos a entender que não devemos desperdiçá-lo mas, sim, devemos preencher seu propósito mais profundo - revelar a essência da nossa existência, a verdadeira natureza da mente. 
 O Segundo Pensamento Básico: A Impermanência
Um dos melhores métodos para desenvolver prática espiritual pura é meditar continuamente sobre a impermanência. Começamos olhando para o universo inanimado. Em certo tempo, eras atrás, não havia nada de concreto aqui. Segundo a cosmologia budista, primeiro apareceu o elemento ar, que deu origem aos elementos fogo, água terra, à medida que o universo físico passou a existir, como o Monte Meru no centro, cercado pelos quatro continentes. Então, formas dotadas de vida começaram a surgir, primeiramente a partir de divisão celular, depois a partir de vários tipos de reprodução assexuada, então reprodução sexuada, inclusive nascimento vindo de um ovo e do ventre de uma mãe. 
Ao pensarmos sobre essas coisas, nossas percepções do universo começam a mudar; damo-nos conta de que, por mais verdadeiro e sólido que ele parece ser, não é eterno. 
As mudanças são contínuas. Dia a dia, uma estação corre para próxima. O dia vira noite, à noite, dia. 
Tudo o que se forma tem que se desfazer, tudo que se junta tem que se separar, tudo que nasce tem que morrer. Mudanças contínuas, mudanças implacáveis, são constantes em nosso mundo.
 A vida é uma corrida contra morte, e a hora da morte é desconhecida. Contemplar a aproximação da morte muda as nossas prioridades e nos ajuda a abrir mão do envolvimento obsessivo com as coisas ordinárias. Se permanecermos sempre conscientes de que cada momento pode ser o nosso último, iremos intensificar a nossa prática para não desperdiçarmos nem fazemos mal uso da nossa preciosa oportunidade humana. À medida que amadurece a contemplação desta verdade, começaremos a ver que tudo é ilusório, como um sonho ou uma miragem. 
Então, poderíamos perguntar, o que terá utilidade para nós quando morrermos ? A única coisa que irá nos beneficiar será a nossa prática do Darma; a única coisa que nos seguirá na morte será nosso carro positivo e negativo. Nada mais. 
 A medida que a nossa compreensão da impermanência da natureza ilusória da realidade aumenta, também aumenta nossa compaixão. Vemos que aprisionados em sua crença no sonho, sem nenhuma compreensão da impermanência, os seres vivem em angústia e sofrimento tremendos. 
 Pensar sobre impermanência e a morte ajudam a nos desvencilhar de valores mundanos e a mudar nossas prioridades. 
O Terceiro Pensamento Básico: O Carma
 Embora alguns pensam que o princípio do carma exista apenas na doutrina budista, na realidade pode ser encontrado em quase todas as tradições espirituais. A visão budista é a de que quanto maior a bondade de uma pessoa, maiores as suas experiências de felicidade. Quanto maior a negatividade de uma pessoa, maior o seu sofrimento dor. A realidade atual do nosso dia a dia é o resultado cármico dos nossos pensamentos, palavras e atos, nesta vida e em vidas passadas. 
 O carma pode ser comparado ao uma semente que em condições adequadas, dará lugar a alguma planta. Se você colocar na terra uma semente de cevada, pode ter certeza de que obterá um broto de cevada. A semente não vai produzir arroz. 
 Embora sejamos responsáveis por aquilo que semeamos, esquecemos que lançamos aquelas sementes, e, quando amadurecem, damos créditos as pessoas ou coisas fora de nós pelo acontecido, ou então a culpamos por isso. Mas perdemos de vista o fato de que cada pensamento, palavra e ação produzirá um resultado. Quando o fruto finalmente amadurece, pensamos, " Porque isso aconteceu comigo? Não fiz nada para merecer isto. 
 Para encontrarmos liberação do Samsara precisamos trabalhar no nível das causas, não no nível dos resultados. 
Não precisamos saber exatamente que carma estamos purificando para empregarmos um determinado método: as técnicas de purificação atuam sobre o carma negativo de toda espécie. O desenvolvimento de compaixão, amor, bondade e altruísmo, recitação de mantras, a meditação sobre os seres iluminados e preces a eles - tudo isso ajuda a diminuir nosso sofrimento. 
 Dentre todos os métodos, o mais eficaz é a prática formal feita com base na compaixão e na intenção de liberar todos os seres do Samsara. Sempre que manifestamos amor, compaixão, bondade de coração e a intenção pura de trazer ajuda, essas qualidades, como um solvente, naturalmente purificam e dissolvem o carma. 
 O carma pode também ser purificado por meio da confissão e arrependimento sincero, com a utilização das quatro forças. 
 A primeira delas é a força da testemunha ou do apoio. Invocamos, como a testemunha da nossa prática, a corporificação de perfeição na qual temos fé,um determinado aspecto de ser iluminado, como, por exemplo, Tara, a corporificação da sabedoria, ou vajra, a deidade da purificação.
  A segunda força é a do arrependimento sincero de todas as nossas ações negativas, nesta vida em todas as passadas. 
 A terceira força é a decisão firme de não cometermos quaisquer ações negativas no futuro.
 A quarta força é a do antídoto, da purificação e da benção. Visualizamos néctar ou raios de luz que descem do objeto da nossa fé através do nosso corpo, purificando-nos, lavando e removendo todas as negatividades, doenças e obscuridades.
O Quarto Pensamento Básico: O Oceano do Sofrimento
 O resultado de todas as ações que praticamos forma a trama da nossa vida, como a de um tapete: cada fio, cada detalhe. Cada um de nós continua a tecer. diferentes realidades físicas e ambientais, amarrando-nos mais fundo aos ciclos de sofrimento. Nossa experiência depende do nosso carma, que produz graus variados de enganos e ilusões. Se os venenos da mente são agudos, experimentamos uma realidade muito dolorosa, infernal. Se os venenos se reduzem, nossa realidade se torna menos severa, mais agradável. 
 Há três tipos de sofrimento. O primeiro é o sofrimento que se sobrepõe ao sofrimento. Uma coisa ruim acontece em cima de outra, e parece não haver justiça alguma no processo. 
 O segundo sofrimento é o sofrimento da mudança. Nada é confiável ou consistente. Por maior que seja nossa esperança de ter uma base sólida sobre a qual nos apoiarmos, tudo aquilo com que contamos sempre se corrói, criando grande dor.
 O terceiro sofrimento é o sofrimento que tudo permeia. Da mesma forma que, quando você espreme uma semente de gergelim, consta que ela está permeada de óleo, pode parecer que nossa vida seja feliz, mas, quando somos espremidos, sofremos. Tão certo quanto fato de que nascemos é um fato de que iremos ficar doentes, envelhecer e morrer. 
 O inferno é o reflexo dos enganos e fantasias da mente, dos pensamentos e intenções raivosas, das palavras e ações nocivas que eles produzem. Se não forem controlados, não há como deixar de vivenciar o inferno. 
Através da contemplação contínua da nossa existência humana preciosa, da morte e impermanência, do carma e sofrimento, a mente se volta para o Darma.
Como Contemplar os Quatro Pensamentos
 Por meio de contemplações repetidas, ou o que às vezes é chamado meditação analítica, conseguimos transformar os nossos padrões de pensamento mais entranhados. Se não contemplarmos, os mesmos venenos velhos da mente - ignorância, apego, aversão, inveja e orgulho - surgirão um dia após dia, ano após ano. Simplesmente tentar aquietar a mente não é suficiente para superá-los.
 Além da meditação analítica, praticamos um outro tipo de meditação mais não conceitual, em que simplesmente deixamos a mente relaxar e reverter as seu estado natural, sem qualquer contemplação. Aqui, cortamos o apego da mente aos conceitos, seu hábito de sempre pensar no passado ou no futuro, em preferências e versões. 
 Em conjunto, essas duas técnicas são como o cabo e a lâmina de uma espada, com a qual cortamos até o âmago a tendência de nos prendermos à solidez aparente da experiência sujeito-objeto. Cortamos os fortes laços do apego, da identificação com o "eu” da auto-importância. 
Quando utilizamos ambos os métodos, trabalhamos no sentido de dissolver a dualidade, cortando a pego não só ao processo dos pensamentos ordinários, como também a experiências não-conceituais, extraordinárias ou prazerosas. 
 Comece contemplando um dos quatro pensamentos básicos e, então, relaxe a mente. A seguir, reze ao lama ou outro objeto de sua fé, pela benção de alcançar algo que seja benéfico a você e aos outros, antes que a impermanência se interponha e você deixe de ter este corpo. Gere compaixão pela condição dolorosa dos seres, e ofereça a aspiração de que todos venham a alcançar a liberação dos ciclos de sofrimento. Então, faça um compromisso de aplicar as coisas que você compreende e os métodos do Darma de forma diligente, a fim de realizar sua aspiração. Depois, passe para contemplação do próximo pensamento básico, e novamente repouse a mente; então reze, gere compaixão e, finalmente reitere seu compromisso de liberar todos os seres do sofrimento, e assim por diante. Ao seguir esse processo, você se aproximará da experiência direta da natureza da mente, a verdade absoluta que não pode ser apreendida por palavras nem conceitos. 
 A percepção da verdadeira natureza da mente e do processo dos pensamentos não são mutuamente exclusivos. Na verdade, são inseparáveis-um bom praticante nunca perde essa percepção enquanto come, dirige para um trabalho ou brincar com as crianças. A verdadeira habilidade na meditação está em não perder consciência no momento da transição de um pensamento ou atividade para outro. Quando você está inteiramente presente em cada experiência e em cada transição, você permanece próximo de sua essência.
 Outro método para aprofundarmos nossa compreensão dos quatro pensamentos inclui visualização. Comece estabelecendo motivação pura, sua aspiração de atingir a iluminação afim de ajudar os seres a passar além do sofrimento e encontrar alegria e felicidade plenas. Então, de forma tão detalhado quanto for possível, considere como as coisas mudam. Quando sua mente se cansar, relaxe. Não force: o verdadeiro relaxamento, de início, não dura muito tempo. 
 Quando os pensamentos começarem a emergir novamente, visualize-se em uma região muito elevada e acidentada, onde penhascos rochosos, negros e íngremes erguem-se vertiginosamente. Não há nada que se segurar. Apenas uma trilha muito estreita e precária serpenteia pela encosta escarpada do penhasco. A trilha vai se estreitando, à medida que você caminha, até que desaparece por completo. Você não pode seguir adiante, atrás, perseguindo-o, estão feras que rosnam esfomeadas. Não há segurança em parte alguma, nenhum lugar para se esconder. As feras fecham cerco por detrás, você não tem para onde correr. Você está indefeso, sem amigos, sem família, sem esperança. 
 Em desespero, você clama por seu mestre, por Deus ou Buda-por alguma coisa maior do que você, alguma coisa infalível. Essa corporificação da perfeição aparece dizendo:  " não tenha medo. Esses penhascos negros traiçoeiros surgiram como resultado de você se agarrar, desde o tempo em princípio, à crença de que a realidade ordinária é verdadeira. Essa crença tornou-se tão forte que o perigo você corre é grande. A ignorância deixa a paisagem escura. Essas feras que tem intenção de matá-lo representa um amadurecimento do carma que você criou com sua própria mente cheia de venenos. Essa trilha estreita que desaparece no nada é um caminho do samsara. Tudo que foi reunido vai se dispersar. Tudo que acontece agora, em algum momento cessará. Dia a dia, cada passo que você dá, pé esquerdo, pé direito, passará sem qualquer possibilidade de recuperação ou controle. A curta extensão da trilha indicada é a verdade do seu carma para permanecer nessa vida humana ". 
 Então, o ser infalível o que você invocou pergunta: "o que é a morte? O que é o samsara? Parece bom, mal, alegre, triste, mas é como um sonho. Não há nele nem sequer vestígio de algo real ou sólido. As visões enganosas e a ignorância perpetuam experiências fantasmagóricas de perigo e de poder. Acordar desse sonho é compreender a natureza absoluta, além do nascimento e da morte". 
 Após ter concluído a visualização, deixe a mente repousar. Por fim, dedique o mérito da sua prática a todos os seres, a que eles possam despertar do sonho de sofrimento. 
 Através desta meditação, você verá que as visões ilusórias enganosas, a ignorância, os venenos, carma e a crença na verdade de uma realidade que não tem substância. Todos criam as condições precárias do ciclo do sofrimento. Ao reconhecer a permanência e contemplar a natureza do samsara, que é vazia como um sonho, você vai minando sua crença na solidez das experiências. 
 Clareza, estabilidade e uma felicidade sublime são subprodutos naturais da meditação, mas podem se tornar obstáculos à meditação ao caminho da iluminação, se ficarmos apegadas a elas. Portanto, o processo de cortar é de crucial importância. 
 Todo samsara está realmente cheio de sofrimento? A resposta é: se você olhar com clareza para o samsara, verificará que não há, em nenhum lugar, felicidade que dure. Não há nada em que possamos depositar nossa esperança. Não há circunstância samsárica alguma que você possa criar, com toda sua inteligência e sua virtude, capaz de produzir felicidade duradoura. 
 Se seguirmos pelo caminho espiritual com bastante diligência, se nossa prática for pura e forte, poderemos purificar o carma. Precisamos contemplar os quatro pensamentos básicos para inspirar diligência, para assegurar que não estaremos apenas fazendo gestos fúteis ou praticando um tipo de pseudo-espiritualidade.
Reflita, relaxe, reze, gere compaixão, renove seu compromisso. Reze para poder trabalhar sem cessar para liberdade de todos os seres do ciclo de sofrimento. Reze para desenvolver a capacidade de liberar todos os seres, onde quer que esteja, no espaço da verdade da natureza absoluta. 
 Não negue a verdade dos quatro pensamentos. Eles podem ser duros de engolir, mas não fique se enganando. Reflita sobre eles. Contemple-os. Avalie que o que eles significam, vivencie o que eles oferecem para meditação. Eles são chamados os esteios da meditação, como os quatro pés de uma plataforma sobre a qual você se senta. Eles são transformadores: voltam a mente para o Darma ,para a verdade.
Refúgio 
 Sabemos que a nossa contemplação dos quatro pensamentos foi eficaz se nossos olhos começam a ver através da nossa experiência samsárica, se começamos a compreender que ela é desprovida de essência, que nada dentro dela é confiável ou imutável. Com o que então, podemos contar? Onde vamos encontrar um coração verdadeiro, uma essência verdadeira? Somente no Darma sagrado, no caminho espiritual, vamos descobrir algo que tenha valor absoluto. 
 Os quatro pensamentos se enquadram na categoria de ensinamentos introdutórios chamados preliminares ordinárias, comuns a todas as tradições budistas. Embora constituam uma base fundamental para a prática do Darma, não representam um passo formal no caminho budista. Para irmos adiante precisamos assumir um compromisso que toma corpo no voto de refúgio. Essa é a primeira porta de acesso à prática budista. 
 A palavra " refúgio " denota lugar de segurança ou proteção. Em essência, voto de refúgio implica assumirmos o compromisso de nos direcionarmos sempre de modo a não causar nos mal aos outros. 
 A motivação parece tomar refúgio nas tradições Mahaiana e Vajra é uma compaixão altruísta pelos incontáveis seres que sofrem dentro da existência cíclica, e um desejo sincero de ganhar liberação para poder livrá-los. Voto de refúgio dura não somente por esta vida, mas até que alcancemos a iluminação, por mais distante no futuro que isso possa ser. 
 Nós tomamos refúgio nas três joias: o Buda, o Darma e a Sanga. O Buda é semelhante a alguém que andou por uma certa estrada, pelo fato de ter alcançado destino final, conhece o percurso e é capaz de mostrar o caminho. A estrada em si é o Darma. E aqueles com quem viajamos, aqueles que nos oferecem apoio e em que confiamos, formam a Sanga. Ao tomar refúgio, seguimos os passos daqueles que nos precederam no caminho da iluminação. 
 Buda, tal como um diamante bruto, passou pelo processo de ser lapidado e polido, transformando-se numa gema cintilante e perfeitamente acabada. Todos nós, embora tenhamos o mesmo potencial para nos transformarmos numa gema assim, ainda somos como que diamantes brutos, cuja as qualidades perfeitas se encontram obscurecidas. 
 Ao tomar refúgio, nós nos pautamos pelo exemplo do Buda porque, tendo percorrido o caminho, ele nos mostrou o trajeto a ser feito. Ele nos mostrou o que abandonar e o que abraçar, apontando a direção a ser tomada demonstrando em cada passo o caminho da iluminação. 
 Em segundo lugar, tomamos refúgio no Darma sagrado: os ensinamentos do Buda os métodos que ele empregou para alcançar iluminação - uma grande multiplicidade de meios, que constituem o legado por ele deixado. Aí tudo é claramente discriminado: o fundamento, o caminho e o fruto da prática, como começar, como superar obstáculos, como fortalecer as qualidades positivas que começam a brotar. Esses métodos ou ianas (veículos) são geralmente divididos em nove categorias que compõem três abordagens básicas: o caminho Hinaiana, da salvação pessoal; o caminho Mahaiana, daqueles que buscam a liberação em prol de todos os seres; e os ensinamentos Vajra, que se insere dentro do Mahaiana que geralmente denominados o caminho curto. 
 Em terceiro lugar, tomamos refúgio na Sanga, os muitos praticantes que puseram em prática os métodos do Buda e mantiveram seu legado em uma linhagem verbal ininterrupta - perpetuando um registro histórico de escrituras que encerram os ensinamentos -, bem como uma linhagem mente-a-mente - uma tradição vibrante de experiências pessoais que revelam a verdade desses ensinamentos. A Sanga é como uma mala ou Rosário vivo, uma " fieira " de praticantes conectados uns aos outros por uma prática através dos séculos, exemplificando os ensinamentos e mantendo uma tradição que é vital e acessível a nós hoje, e que continuará a ser às gerações que estão por vir.
 As três joias, portanto, são uma fonte confiável de refúgio para nosso sofrimento, ignorância e confusão. 
 A palavra " refúgio ", possui três aspectos. Até agora discorremos sobre seu significado externo. Ela também traz significado interno e secreto, que vamos mencionar aqui e expor em maior detalhe mais adiante. 
 Na tradição vjara, as fontes internas de refúgio são as três raízes - o lama, o Yiadam e a dakini. Diz-se delas que são a fonte das bênçãos, da realização espiritual e da atividade iluminada, respectivamente.
 O lama ou mestre espiritual é a raiz das bênçãos, no sentido de que ele transmite o conhecimento, os métodos e a sabedoria que nos capacita a alcançar a liberação. O yidam ou deidade meditativa eleita é a raiz da realização, no sentido de que, por meio de nossa prática, somos capazes de compreender a natureza da mente. Através do método da deidade meditativa, somos capazes de compreender e consumar a dakini, o princípio feminino da sabedoria que propicia atividade iluminada. 
Quando assumimos o compromisso de refúgio, podemos ter certeza de que o sofrimento samsárico  deixará de ser infinito para nós. Porém, embora tenhamos tomado refúgio, não podemos simplesmente ficar sentados, esperando que as três joias venham nos abençoar. Se não fizermos um trabalho para nos amadurecer, não estaremos respectivos às suas bênçãos. Tomar refúgio implica fazer um compromisso pessoal. 
 Quando tomamos refúgio, tomamos uma decisão sobre a qual caminho é o mais certo para nós, e assumimos um compromisso de seguir por esse caminho. A ideia de firmar um compromisso assim, às vezes deixa a pessoa apreensiva. Meu compromisso não é simplesmente trabalhar para meu próprio benefício, mas trazer benefícios aos outros. Quanto isso estou seguro. Até agora, não prestei muita atenção a minha mente. De verdade, não examinei a natureza, nem como ela funciona. De agora em diante, porém, vou estar alerta e manter presença mental; vou me observar com firmeza. Vou fazer um esforço para acentuar, incentivar tudo aquilo que for virtuoso em mim, reverter, com tempo, eliminar as minhas tendências não-virtuosas ". Apenas esse tipo de compromisso inabalável torna eficaz o voto de refúgio. 
 Os benefícios de se tomar refugio dessa maneira são verdadeiramente incalculáveis. Uma das escrituras afirma que, se esses benefícios tiverem forma tangível, seriam mais vastos do que todo universo das 3000 dimensões. Através das bênçãos das nossas fontes de refúgio, recebemos a orientação, os meios e o apoio para nossa prática espiritual e, ao final, para alcançarmos a libertação. Quando os nossos esforços vão ao encontro dessas bênçãos, podemos despertar para nossa consciência intrínseca, a verdadeira natureza da nossa mente. É isso que no sentido mais profundo, significa tomar refúgio. 
 Ao tomar refúgio você acumula grandes virtudes a cada minuto, a medida que você honra seus votos.
Deixando Nascer a Bodicita 
 Para nos guiarmos no caminho espiritual, precisamos uma meta em direção a qual trabalhar da mesma forma que uma flecha precisa de um alvo. Através da bodicita, a porta seguinte de acesso à prática nas tradições mahaiana e vajra, continuamos a mirar no alvo da iluminação para benefício dos outros seres a cada momento que praticamos. 
 A bodicita constitui a base, o fundamento de tudo que fazemos. A qualidade e a pureza da nossa prática dependem do fato dela permear cada um dos métodos que utilizamos. Com ela, tudo fica assegurado. Sem ela, nada funciona. A bodicita possui três componentes. A geração de compaixão pelo sofrimento de todos os seres; na aspiração de chegarmos a iluminação a fim de alcançarmos a capacidade de beneficiar todos os seres, chamadas de bodicita da aspiração; o fato de ativamente nos engajarmos no caminho da liberação afim de realizarmos tal meta, chamada de bodicita da ação. 
 A expressão bodicita, em sânscrito, significa a remoção dos obscurecimentos, a revelação de todas as qualidades perfeitas internas. 
 Os obscurecimentos da mente podem ser comparados ao barro que recobre um cristal que a muito tempo está enterrado no chão. Ao purificarmos e removermos os obscurecimento da mente, revelarmos nossa natureza verdadeira e cristalina. 
 A compaixão, o primeiro aspecto da bodicita, também existe, de forma intrínseca, dentro de nós. Embora tenhamos naturalmente um bom coração, geralmente ele é bastante limitado. Através da prática, podemos expor e ativar nossa compaixão perfeita e ilimitada. 
 Começamos a prática, a remoção dos obscurecimentos da mente, reduzindo nossa auto-importância redirecionando nossa atenção para os outros. Os Budas eliminaram os pensamentos egoístas e ordinários, cultivaram motivação altruísta e, assim, alcançaram a iluminação. 
 O desenvolvimento desse tipo de motivação repousa sobre quatro pedras fundamentais, chamadas das quatro qualidades incomensuráveis. A primeira delas é equanimidade, uma atitude de igualdade para com todos os seres. Através da prática da equanimidade, cultivamos do fundo do coração, uma atitude nobre de compaixão por todos os seres sem distinção. Desenvolvemos equanimidade dando-nos conta de que todos os seres, igualmente, desejam a felicidade. Ninguém quer sofrer.
 A própria compaixão, a aspiração de que o sofrimento venha a cessar, é a segunda qualidade incomensurável. Um potente antídoto para a auto-importância ou interesse próprio, a compaixão, de forma mais imediata, nos ajuda liberar nosso foco implacável em nós mesmos e em nossos problemas. Como é que geramos compaixão? Começamos contemplando a dificuldade dos outros seres e, então, nos colocamos no lugar deles. 
 Contemplamos a dificuldade de uma ou duas pessoas que conhecemos, lentamente, com a prática ampliamos nosso foco para incluir mais e mais, até que o sofrimento de todos os seres tenha verdadeiro significado para nós. Recordamo-nos da dor dessas pessoas de maneira tão viva que podemos praticamente vê-la diante de nossos olhos. 
 A compaixão é realçada pela terceira qualidade incomensurável: O amor que se estende igualmente a todos. O amor é um desejo sincero de que cada ser vivencie tanto a causa quanto o fruto da felicidade, temporária e definitiva. Estabelecemos o compromisso de fazer todo esforço-físico, verbal e mental-para que isso venha ocorrer. 
 A última das quatro qualidades incomensuráveis é o regozijo: a atitude de nos comprazermos com a felicidade dos outros. Regozijamo-nos com as bênçãos mundanas de que outros desfrutam - sua saúde, riqueza, relacionamentos maravilhosos - e com sua boa fortuna espiritual. Não permitimos que a inveja toma conta de nossa pessoa, nem nos perguntamos, " porque é que eles conseguem isso ou aquilo, e eu não? ". Em vez disso, formulamos a aspiração de que a felicidade deles seja duradoura, fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que isso aconteça. 
 A princípio, a prática das quatro qualidades incomensuráveis requer esforço. Um a um, soltamos os nós que nos amarram - os venenos, enganos e ilusões da mente. A equanimidade reduz o orgulho, o regozijo reduz inveja, compaixão reduz o desejo e o amor reduz a raiva e aversão. À medida que a raiva diminui, desponta a sabedoria que é como espelho; à medida que o desejo diminui, desponta a sabedoria que discrimina, e assim por diante. À medida que nossa prática amadurece e a sabedoria é revelada, as quatro qualidades incomensuráveis brotam naturalmente, sem esforço, da mesma forma que os raios de luz e calor emanam do sol.
Bodicita da Aspiração e da Ação 
 A bodicita possui duas vertentes: uma ligada ao bem-estar dos outros seres ou compaixão, a outra ligada à iluminação ou sabedoria. 
 Quando praticamos, podemos cultivar uma dentre três categorias da bodicita. Chamamos a primeira de atitude do pastor, pois nossa motivação é levar todos os seres sencientes à iluminação. Chamamos a segunda a atitude do barqueiro. Ao cruzar um rio, o barqueiro chega na margem oposta ao mesmo tempo que seus passageiros. Do mesmo modo, você e todos os demais seres caminham juntos para iluminação. A atitude do rei: nós cultivamos uma ou outra dessas formas de bodicita para nos contrapormos ao apego ao eu em seus vários graus, o maior de todos os impedimentos à iluminação. O desejo de alcançar a iluminação para nós mesmos para todos os seres é chamado bodicita da aspiração. Damos o nome de bodicita da ração ao uso amplo de métodos que reduzem e purificam pensamentos e ações negativos que estimulam qualidades positivas, acompanhado do reconhecimento da verdadeira natureza da mente, para que possamos levar a nós mesmos e a todos os seres ao estado búdico. É o caminho do bodisatva. 
 O método para incorporarmos bodicita a todos os aspectos da nossa vida é a prática das seis perfeições ou (em sânscrito) paramitas: generosidade, disciplina moral, paciência, diligência, concentração e sabedoria.  A generosidade afrouxa nosso apego às coisas às quais nos prendemos. 
 Na prática da disciplina moral verificarmos continuamente a nossa motivação para nos assegurarmos de que estamos usando nosso corpo, fala e mente com habilidade, estamos não apenas nos abstendo de causar um mal, mas também trazendo ajuda. 
 Praticamos paciência ao perseguimos, sem trégua, nossos esforços de beneficiar os outros, independente da reação ou atitude deles em relação à nossa pessoa. Também cultivamos paciência como antídoto da agressividade, raiva e ódio. A diligência implica em nos prepararmos para uma tarefa de iniciar, vestindo perseverança semelhante a uma armadura, para chegarmos até o final sem nunca retroceder. 
 Desenvolvemos concentração ou estabilidade meditativa através do treinamento da mente. Sabedoria, também chamada de conhecimento transcendente, significa conhecimento da verdade absoluta além dos conceitos ordinários, da dualidade sujeito-objeto das experiências temporárias de sublime felicidade, clareza e estabilidade. 
 Chamamos de visão o conhecimento da inseparabilidade entre verdade absoluta e relativa. 
 Os atos que visam trazer benefícios são chamados de acumulação de méritos, a reunião de virtudes que implica esforço. 
O mérito que criamos por meio da prática pode ser dedicado em benefício de todos os seres. Para voltarmos a mente na direção do altruísmo precisamos contemplar bodicita vez após vez, tal como fazemos com os quatro pensamentos. Contemple a compaixão, imaginando-se no lugar de outro ser, vivenciando sofrimento dele, então deixe a mente repousar. Reestabeleça seu compromisso de fazer tudo que puder para aliviar o sofrimento dos seres e ajudá-los a encontrar liberação, acordar do sonho de sofrimento. Ore para que, pelas bênçãos de todas as fontes de refúgio, suas aspirações sejam preenchidas. A seguir, contemple a equanimidade, a igualdade do sofrimento de todos os seres. Então, deixa a mente relaxar, e reestabeleça seu compromisso, reze, e assim por diante. Se você fizer isso ao longo de todo dia, voltando-se por breves espaços de tempo para cada uma dessas etapas de meditação, sua mente irá mudar.
Revelando nossa Natureza Básica
 Os 84.000 métodos ensinados pelo Buda Sakiamuni se enquadram em três categorias principais. O primeiro caminho do hinaiana toma como base a compreensão de que o samsara é permeado de sofrimento e dificuldades, de que toda felicidade que pode ser encontrada é impermanente. Com a aplicação dos métodos do hinaiana, o praticante desenvolve a capacidade de passar além do ciclo de sofrimento, para uma experiência de alegria e felicidade plena. 
 No mahaiana, a segunda categoria, encontramos, além dessa mesma compreensão do sofrimento, um ensinamento de que tudo - sofrimento e felicidade, desenvoltura e ventura, que surgem todos como jogo do carma - é ilusório, é como um sonho, uma miragem ou como reflexo da lua sobre a água. Fundamental a esse caminho é a visão da inseparabilidade entre verdade relativa e absoluta, a aspiração de ajudarmos todos os seres - não apenas nós mesmos - a encontrar liberação. Através da prática das seis perfeições, desenvolvemos a capacidade de passar além do samsara e do nirvana, de encontrar liberação plena. Esse é o caminho do bodisatva. 
 A terceira categoria da prática budista é chamada de vajra. Aquilo que é “vajra” possui sete qualidades: não pode ser cortado pelos obstáculos à nossa iluminação, nem ser aprendido ou separado por conceitos; não pode ser destruído por conceitos que atribuem às aparências uma verdade que elas não possuem; é verdade pura, no sentido de que nada contém de errado; não é feito de substância que se aglutinou e que pode se desmanchar; não é impermanente e, portanto, é estável; é impossível de ser obstruído, no sentido de que tudo permeia; e é inconquistável, no sentido de que é mais profundo do que tudo o mais, e assim destemido. 
 Essas são as sete qualidades da nossa própria natureza, a verdadeira natureza do nosso corpo, fala e mente. Cada um de nós possui um corpo físico, com o qual temos as experiências de céu e terra, amigos e inimigos, alegria e tristeza. Quando esse corpo se deita a noite para dormir, mesmo que não saia da cama, uma experiência totalmente diferente de corpo, céu, terra, amigos e inimigos aparece - o corpo do sonho, a fala do sonho e a mente do sonho. Quando acordados, no dia seguinte, novamente temos experiências do estado de vigília de corpo, fala e mente, que consideramos reais. Por ocasião da morte, quando o corpo é deixado para trás, enterrado ou cremado, temos uma outra experiência de corpo, fala e mente, no estado intermediário entre o final desta vida e começo da próxima, uma experiência de certo ponto semelhante à do sonho, porém mas difícil e amedrontadora. 
 A prática do vajra abrange tanto o hinaiana quanto o mahaiana. 
 A prática das quatro qualidades incomensuráveis, por exemplo, é muito importante na tradição mahaiana. No vajra, igualmente, pintura de mandalas mostram quatro portas voltadas para os quatro pontos cardeais, simbolizando as quatro qualidades incomensuráveis. Na direção leste fica a porta da compaixão, na direção do sul, a porta do amor, da direção oeste, da alegria, na direção sul, da equanimidade. No vajraiana, entende-se a mandala como uma manifestação da pureza intrínseca da mente. Quando os nossos obscurecimentos são purificados, as qualidades puras da mente surgem sob a forma de mandalas e sob a aparência da Terra pura, da deidade de todas as experiências puras. As quatro qualidades incomensuráveis são portas pelas quais ingressamos na verdade, a natureza absoluta da mente. 
 Na tradição vajra, precisamos primeiro receber iniciação para amadurecer a mente e criar receptividade aos ensinamentos e à prática. Apenas um lama que detenha a linhagem e tenha consumado a prática pode iniciar uma outra pessoa. Através da força da meditação, recitação de mantras e do uso simbólico de substâncias, somos iniciados tanto nas práticas do estágio do desenvolvimento e da consumação, quanto no reconhecimento do corpo, fala e mente da deidade bem como da nossa natureza absoluta. 
 Simplesmente receber iniciação não é suficiente. A essência, o coração da iniciação é samaia, ou um compromisso de sustentar nossa prática diária honrar os votos que tomamos. 
Todos os seres, quer grandes quer pequenos, tem essa natureza fundamental, essa pureza essencial. Pelo fato de ser essa a nossa natureza fundamental, podemos revelá-la por meio da prática, da mesma forma que o refinamento revela o ouro que existe de toda forma inerente do minério. Essa essência, sem princípio, é completamente isenta de substância, vazia. 
 Na primeira de três etapas sucessivas de ensinamentos, chamada primeiro giro da roda do Darma, o Buda ensinou as quatro nobres verdades: a verdade do sofrimento, da origem do sofrimento, do caminho pelo qual ele é erradicado a verdade da sua cessação. No segundo giro da roda do Darma, ele ensinou que a verdadeira natureza de todos os fenômenos é vazia, desprovida de sinais de aspiração: a natureza básica é a vacuidade, o caminho é isento de sinais e o fruto, isento de aspiração. No terceiro giro da roda, ele falou das qualidades da natureza da mente que são plenas e resplandecentes, falou da aparência clara da luz da sabedoria. 
No vajraiana, reconhecemos que todas as aparências fenomênicas possíveis do samsara e nirvana, desde o tempo sem princípio, são iguais, sem separação nem distinção, dentro de sua natureza búdica completamente pura, da mesma forma que são as aparências do sonho da noite dentro da verdade absoluta do sonho.
 Dado que a pureza sem princípio, darmata, é a nossa natureza, para torná-la manifesta não precisamos fazer nada com ela nem tirar nada dela, não precisamos incrementá-la, nem diminui-la. Antes, usando os métodos que compõem o caminho, simplesmente a revelamos tal como é. A tradição vajraiana reúne métodos de prática externos, internos e secretos. Dentro da natureza absoluta não há distinção nem separação entre "eu" e "outro". Tudo tem um só sabor. Ela é verdadeira e tudo permeia. 
 Ao conhecermos nossa natureza absoluta e mantermos um reconhecimento dela, seremos capazes de revelar nossa natureza como sendo a deidade e ter a plena realização dessa revelação. 
 Pelo fato de vivermos presos a nossos obscurecimentos e não compreendermos nossa natureza como sendo igual a da deidade, nós nos exercitamos nesse reconhecimento, criando a visualização recitando o mantra da deidade, fazendo oferendas de orações. Desse modo, recebemos as bênçãos daqueles que alcançaram a iluminação. Essa é a prática da deidade externa. 
 Os ensinamentos do Darma do Buda são como um jardim transbordante de flores de muitos matizes e formatos. Não é necessário escolher apenas um método, nem é necessário que uma só pessoa tente aplicar todos eles. 
 Mantra significa “digno de louvor ", pois a sua repetição nos possibilita alcançar nossas metas fácil e rapidamente. A eficácia dos mantras deve-se a quatro fatores: primeiro, a própria natureza ou essência deles, ou seja, a natureza da realidade em si, pois eles nunca se afastam da vacuidade. Ele se compõe de sons e sílabas que brotaram espontaneamente da equanimidade e compaixão dos Budas, bodisatvas, detentores de consciência intrínseca e praticantes espirituais evoluídos. 
 É muito importante a posição em que vamos nos sentar quando formos meditar. As práticas são apoiadas por uma postura corporal correta. Quando a espinha está reta, os canais sutis do corpo estão retos e as energias sutis podem se movimentar sem impedimento. Isso ajuda deixar a mente clara e a impede de ficar pulando para objetos externos ou internos da nossa atenção, em vez de repousar na consciência intrínseca. 
 O caminho vajraiana é complexo, tendo muitos métodos para remoção de confusão, ilusão e enganos, mas é também chamado o caminho do raio, por ser tão veloz e direto. Se você seguir esse caminho com diligência, poderá alcançar a iluminação no curso de uma só vida, ou em menos tempo.
Oração
 A finalidade da oração não é ganhar a aprovação nem afastar a ira de um Deus exterior. Na medida em que compreendemos Buda, Deus, a deidade, como sendo uma expressão da realidade última, nessa medida recebemos bênçãos quando rezamos. Na medida em que temos fé nas qualidades ilimitadas do amor e compaixão da deidade, nessa medida recebemos as bênçãos dessas qualidades. 
 Para compreender como uma oração funciona, considere o sol, que brilha em todo lugar, sem hesitação nem impedimento, como Deus ou Buda, ele continuamente irradia toda sua força, calor e luz, sem diferenciações. 
 Rezarmos por aquilo que seja o melhor, não só para nós, mas também para todos os seres. Portanto, até que nossa motivação se ligue a uma pureza de coração, pode ser benéfico passar mais tempo cultivando amor e bondade do que rezando. Com a motivação adequada, a oração torna-se um componente importante da nossa prática, porque ajuda a remover obstáculos, circunstâncias contraproducentes, desequilíbrios nas energias sutis do corpo, confusão e ignorância na mente.

Preparação para a Morte 
 A morte espera por todos nós, quer estejamos preparados ou não, quer escolhamos pensar sobre ela ou não. Precisamos nos preparar para um momento em que a mente e o corpo irão se separar, desenvolvendo hábitos fortes de prática espiritual que não se evaporem diante da morte. 
 Se nos familiarizar-nos com processo de morrer, não seremos pegos de surpresa; não seremos paralisados pelo medo nem distraídos pela confusão. Se desenvolvermos as habilidades meditativas necessárias, a morte poderá ser uma porta para o estado imortal da iluminação, a partir do qual trazemos, sem cessar, benefícios a todos os seres. 
 Quando os elementos que compõem um corpo físico se mantêm em equilíbrio, permanecemos saudáveis. O elemento terra está relacionado com a carne e aos ossos, o elemento água com sangue e os demais fluidos do corpo, o elemento fogo com a digestão e ao calor, e os diferentes ventos com a respiração, a circulação e a ligação da mente ao corpo. Porém, se ocorre um desequilíbrio entre os elementos, se um deles se torna dominante sobre demais, ficamos doentes. 
 Na hora da morte, os elementos perdem sua força. Eles deixam de se sustentar uns aos outros, e a mente se separa do corpo. Quando os elementos começam a se dissociar, a capacidade de conceituar, de diferenciar entre " eu " e " outro ", sujeito e objeto, diminuem. Você cai no desfalecimento da morte, um estado semelhante ao coma, do qual não há retorno. A essa altura, todos os pensamentos impelidos pelos venenos da mente cessam e a mente abre-se para experiência da clara luz; essa é a primeira fase do bardo, o bardo da verdadeira natureza da realidade. 
 Se estivermos treinados em repousar na consciência primordial que percebe a natureza da nossa mente, poderemos conseguir libertação, reconhecendo a clara luz como sendo a nossa própria natureza intrínseca. 
 Nós encontramos no bardo do vir-a-ser, a transição de 49 dias que leva ao próximo renascimento. Nessa ocasião nossa consciência, não aprisionada ao corpo físico, é jogada de um lado para outro, encontrando visões aterrorizantes e sons assustadores. Qualquer pensamento que surge instantaneamente nos impele em direção ao seu objeto. Se em vida adquirimos um hábito forte de rezar quando as coisas pareciam sem esperança, iremos lembrar de rezar nesse momento. No instante em que pensarmos em nossa fonte de refúgio, iremos renascer no reino puro desse ser de sabedoria. Isso se chama a libertação do nirmana-kaia. 
 Caso isso não aconteça, a mente passará para outro sonho, renascendo em um dos seis reinos, tendo sido perdidas todas as oportunidades de despertar, de encontrar renascimento além do sofrimento. Um método denominado phowa pode ser usado no momento da morte para transferir nossa consciência para uma terra pura. 
 No momento da morte, dê algumas pancadinhas no topo da cabeça da pessoa. Isso fará com que a consciência venha para a porta que conduz à terra pura. Não toque em qualquer outra parte do corpo, já que isso atraírá a consciência para a porta inferior, possivelmente para o renascimento inferior. 
 É bastante útil recomendar às pessoas próximas e parentes a sair antes do momento da morte. Eles devem dizer o que desejam e então se despedir. Caso contrário, seu apego a pessoa que morre, ou o apego dela a eles poderá ter efeito de distração, e, em vez de se concentrar na visualização da fonte de refúgio ou no espaço acima da cabeça, a pessoa irá voltar sua atenção para eles. 
 Se, antes de morrer, as pessoas não abrem mão de seu apego àqueles que amam e aos objetos que estima, sua mente poderá ficar presa por tal apego após a morte, e elas poderão se tornar aquilo que chamamos de fantasmas. 
 A concentração em uma luz, no Buda Amitaba ou em uma outra fonte de refúgio no alto da cabeça, ajuda a afastar a tensão desses apegos. Independentemente de sua idade, é importante que você faça testamento. Se você morrer sem testamento, pode ser que você continue agarrado a seus pertences, o que possivelmente levará ao renascimento como um fantasma faminto. 
 Além de prover pelo sustento de sua família e filhos em seu testamento, você pode também deixar algo para aqueles que padeçam de fome ou de doença, ou para praticantes. 
 É de crucial importância começar agora a se preparar para morte, quer você seja jovem ou idoso, saudável ou doente. Comece refletindo sobre a impermanência. A cada noite, quando for se deitar, lembre-se de que este pode ter sido seu último dia, talvez você não acorde pela manhã. Passe em revista a sua vida e pense sobre o propósito dela. Reflita sobre o fato de que a morte é a maior de todas as transições. Visualizando o Buda Amitaba ou o ser de sabedoria no qual tenha fé, recorde-se dos atos de não-virtude que praticou e purifique essas negatividade invocando as quatro forças: a força do apoio, arrependimento, compromisso e bênção. Também reflita sobre as práticas que você fez das maneiras pelas quais você tem procurado ajudar, e dedique essas virtudes a todos os seres. Se você ainda não passou seus bens materiais, mentalmente doe-os a todos aqueles que possam precisar deles. Não se apegue a nada. 
 Antes de adormecer, imagine claramente o objeto de sua fé acima de sua cabeça. Reze para que, pela força das virtudes que você acumulou e das benção de sua fonte de refúgio, você e todos os demais seres venham, após a morte, alcançar renascimento em um reino puro. Então, visualize sua consciência saindo pelo topo da cabeça para se juntar, de forma indissociável, com a essência, o coração do ser de sabedoria que está no alto. 
 Você pode concluir essa contemplação todas as noites rezando, “se eu não morrer hoje à noite, se eu acordar amanhã, comprometo-me a usar meu corpo, fala e mente por inteiro para fazer prática e trazer benefícios ". 
 Ao se preparar ao longo de toda sua vida, com contemplação da impermanência e da natureza ilusória e onírica das suas experiências, com oração e práticas do estágio do desenvolvimento da consumação, com phowa e a prática da grande perfeição, de repousar na consciência intrínseca que percebe a natureza da mente, você poderá transformar o medo e a angústia em relação a morte e ao processo de morrer em uma oportunidade para aprofundar a prática espiritual e liberdade definitiva.
Guru Ioga
 O Buda disse, “sem lamas, não haveria Budas”. Muitas escrituras e comentários budistas afirmam que, antes do advento do mestre na vida de uma pessoa, nem sequer conceito de iluminação existia quanto mais a busca determinada dessa iluminação. Todos os métodos espirituais, desde os passos iniciais de tomar refúgio e votos de bodisatva, vêm do lama. 
 A compreensão, em guru ioga, de que o lama é a união de todas as fontes de refúgio, apressa nosso progresso no caminho. 
 Quando nossas mentes começam a mudar em consequência dos métodos que nos foram dados pelo lama, começamos a reconhecer mais e mais as qualidades nobres do lama, e nossa fé cresce. Quando nossa fé vai ao encontro da realização do lama, o significado da natureza absoluta desponta nossa mente. O que nos libera é a combinação das qualidades do professor com a nossa própria fé, oração e prática. 
 Dado que os métodos que utilizamos não exigem proximidade do lama, podemos praticar guru ioga em qualquer lugar, mesmo se o lama não estiver mais vivo. Se tivermos fé intensa, podemos rezar ao lama pela manhã, a propósito de alguma coisa que não entendemos, e obter compreensão ou solução ao chegar da tarde. Isso porque a essência do lama é a compreensão ou realização da sabedoria. A sabedoria, como a luz do sol, tudo permeia; é a mesma quer perto quer longe. Embora o sol se ponha, nunca para de brilhar. 
 É difícil encontrarmos um professor com qualificações perfeitas, mas aquele que escolhermos como nosso guia no caminho espiritual deve possuir ao menos certas qualidades. O professor ou professora deve não só conhecer o significado literal dos ensinamentos, como também ter passado alguma realização direta desses ensinamentos. Ela ou ele deve contar com calor interno da visão meditativa, a energia que alcança o coração das palavras. A prática do professor deve ter atingido um estágio em que uma confiança inerente do significado mais profundo dos ensinamentos na energia dinâmica da realização tenha sido plenamente alcançada. A mente de um professor nessa condição contém, de forma espontânea, não-fabricada, compaixão e amor por todos os seres. Ver, ouvir, tocar ou mesmo pensar nesse professor é benéfico. Sua experiência é tão vasta que transborda e chega aos outros. Antes de aceitarmos alguém como nosso professor ou professora, precisamos examinar com cuidado as qualidades e capacidades dele ou dela. 
 Quando admiramos e respeitamos alguém como mestre, queremos ser como essa pessoa; queremos possuir as mesmas qualidades maravilhosas. Isso nos inspira a aplicar os ensinamentos, confiante de que irão nos conduzir ao estado que o professor encarna. 
 O que sentimos nasce de nossa profunda apreciação daquilo que o professor nos oferece. Compreendemos que, através da compaixão, realização e bênção do lama, bem como nossa própria fé, devoção e desejo, teremos a experiência de inseparabilidade entre a nossa mente a mente do lama.

Atividade da Mente, Natureza da Mente
 Através da prática com devoção, desenvolvemos a capacidade de transformar condições negativas em condições que nos sustentem. Todo mundo fenomênico serve como um professor, ajudando-nos a desenvolver novas habilidades de lidar com a vida. Podemos tornar tudo que acontece conosco parte do caminho. Provações se transformam em oportunidades para praticar porque nos força a cultivar a paciência. Aprendemos a aceitar adversidades com alegria porque compreendemos que, quando sofremos, purificarmos o carma. Uma única dor de cabeça pode purificar o que seriam centenas de anos de sofrimento em um dos reinos dos infernos. Isso não quer dizer que rejeitamos a felicidade; antes regozijamo-nos com ela, dedicamos nosso mérito aos outros seres, rezamos para que a felicidade deles seja duradoura. 
 Rezo para que a verdadeira natureza de todos os seres, sem exceção, seja revelada, para que cada um de nós veja com clareza a sua verdade intrínseca, fique livre dos grilhões do sofrimento das e dificuldades impostas pelas limitações da mente. 
 Vamos dedicar a esse fim todas as virtudes desses ensinamentos, das mudanças que vamos viver por termos sido expostos a estas verdades, das mudanças que as pessoas a nossa volta, vão atravessar por nos verem encarnar o que aprendemos. Possam essas virtudes se irradiar em todas as direções, em ondas de benefícios.

Síntese elaborada por dra. Gislaine D'assumpção

Fonte:http://www.gislainedassumpcao.psc.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=142&Itemid=33

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