O LIVRO DAS EMOÇÕES: REFLEXÕES INSPIRADAS NO BUDISMO TIBETANO - BEL CESAR (RESENHA)

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O livro das emoções*

Reflexão Inspirada na Psicologia do Budismo Tibetano
Bel César

Esta foi a motivação que me levou a escrever este livro: refletir sobre como foi encontrar a paz ao lidar com as emoções, sejam elas positivas ou negativas. O Budismo é uma filosofia que integra práticas espirituais a todas as situações da vida. Por isso, podemos dizer que não se trata de uma religião, mas sim de um modo de vida baseado na auto-observação, na responsabilidade pessoal, no compromisso em tornar esta vida significativa e preciosa.

Uma mudança interior não ocorre espontaneamente. Exige, em primeiro lugar, a consciência de que a mudança é necessária, depois a determinação de mudar e, por fim, a alegria de ter realizado tal transformação. Desta forma, apesar de fazermos tudo para sermos felizes, colocamos a felicidade sempre distante de nós. Aliás, aprendemos a pensar que aquilo que está longe de nós é sempre melhor do que o que está perto.

I Sem emoção, nada avança.

Não há nada de errado em ser emocional. Por meio do Budismo, você vai aprender a seguir as emoções positivas e deixar as negativas. As emoções positivas nos dão clareza e confiança em nossos propósitos: onde estamos e para onde queremos ir. As emoções positivas são reparadoras. Elas provocam bem-estar e nos ajudam a superar as emoções negativas que, por sua vez, consomem nossa energia vital, deixando-nos exaustos e depressivos.

II Sobre a vergonha de si mesmo

Sonhei que havia sido condenada a morte e que passaria por sacrifícios em diversos “quadrantes” (salas) antes de morrer. Eu sabia que estava sendo testemunhada por um grupo de pessoas, apesar de não poder vê-las, e, que atrás de mim, estava um carrasco me conduzindo a cada sacrifício. Lembro-me que ele me conduziu ao canto superior direito do quadrante, onde, nua, deveria defecar e me sentar sobre minhas próprias fezes. Tomada por uma forte sensação de vergonha, senti o calor permear todo meu corpo. Mas ao mesmo tempo, sustentada pela consciência de que se eu aceitasse totalmente aquela situação ela acabaria, suportei a humilhação. Em seguida, o carrasco me levou ao próximo quadrante, onde deveria me sentar sobre as fezes de uma outra pessoa. Neste momento tenho um insight e escuto uma voz me dizendo: “Você ainda pode se limpar antes de sentar sobre as fezes sobre as fezes dos outros”. Então, começo a escrever esta frase numa carta para ser lida após a minha morte. E ao final dela escrevo: “Agradeço àqueles que me testemunharam com compaixão”. Percebo que posso me sentar sobre as fezes, e não ser contaminada por ela. Penso “Se eu estiver limpa, não fará diferença nenhuma a sujeira delas”.

A partir de então, a consciência da mensagem deste sonho tem me ajudado a manter a clareza de não ser “contaminada” pela negatividade de outras pessoas, quando, de alguma forma, elas estão tentando me manipular para que eu assuma erros que elas mesmas criaram.


Certa vez, cheguei a perguntar para Lama Gangchen por que eu era tão facilmente levada a cumprir este papel de bode expiatório. E ele me respondeu: “Você se move muito, então as pessoas te vêem mais que os outros... quem mais aparece é um alvo sempre mais fácil para ser atacado”. Após este sonho, percebi que cabia a mim manter a clareza de como eu me deixava cair nas armadilhas destas situações adversas.

Afinal, quem sente a vergonha?

O senso de vergonha que nos impede de cometer ações negativas, pois ele desperta a habilidade de monitorar nossa mente. No entanto, a necessidade de superar a desagradável sensação de não estarmos à vontade conosco mesmo pode nos levar a buscar o autoconhecimento.

“É bom falar das coisas boas que fazemos. Isso será negativo se quando estivermos falando, nosso coração começar a doer, um sinal de orgulho, arrogância ou superioridade, sentimentos que afastam as pessoas de nós”.

Culpa: uma consciência reparadora

A Culpa, assim como a vergonha, pede por uma reparação. Ficamos com aquilo na cabeça e não sossegamos enquanto não fizermos algo que nos alivie. E o alívio só vem através da possibilidade de reparar o que fizemos.

V As armadilhas da auto-sabotagem

Há momentos da vida em que reconhecemos que estamos prontos para dar um novo salto, efetivar uma mudança profunda, mas, aos poucos, nós nos pegamos cometendo os mesmos erros de nossa “vida passada”. Isso ocorre porque apesar de querermos mudar, nossos hábitos mentais negativos ainda não nos permitem fazê-lo!  “Se a pessoa não entender que as causas de sua felicidade estão na sua própria mente, irá sempre projetar no mundo externo tudo que lhe acontecer, inclusive suas ações positivas. Dessa forma, ao atingir suas metas, ela não irá reconhecer que foi o seu próprio esforço e dedicação que a levou às suas conquistas. Se estivermos habituados a pensar que tudo ocorre fora de nós, não nos veremos como causadores dos acontecimentos, e, portanto, não nos sentiremos merecedores de seus efeitos”. As pessoas de sucesso não se sabotam porque sabem reconhecer em si mesmas uma auto-imagem de realizadoras!

“Já vimos claramente que nada do que acontece para nós é uma coisa boa ou ruim vinda de si mesma, porque se o fosse todo mundo se sentiria do mesmo modo. Por exemplo, a pessoa que nos irrita no trabalho deveria então irritar todo mundo exatamente da mesma forma, porque sua “irritação” estaria sendo irradiada de dentro dela atingindo a todos no escritório. No entanto, a verdade é que sempre haverá alguém que vai achar essa mesma pessoa boa e amável. No entanto achamos algumas coisas como sendo boas, e achamos algumas coisas como sendo ruins. Se esse sentimento não está vindo da coisa em si, de onde está vindo então? Não precisamos de muito para entender que, obviamente, o modo como vemos as coisas está vindo de nós mesmos”.


O Budismo tem como meta tornar consciente o inconsciente

Não basta querer não pensar em algo para deixar de senti-lo. Os sentimentos não desaparecem só porque são indesejáveis. Aliás, pensar e sentir são duas funções que precisam estar harmonizadas entre si. À medida que reconhecemos nossos hábitos mentais destrutivos, podemos decidir não segui-los. Mas esta não é uma decisão que resulta da força puramente intelectual, mas sim da prática constante de tomar as rédeas de nossa mente. Não basta arrepender-se, é preciso erradicar o padrão mental que leva à autodestruição.

VI Saber parar para lidar com a confusão emocional

As emoções são nossas principais forças motivadoras: elas nos levam a reagir, a nos defender de situações que nos aprisionam e limitam. O medo, por exemplo, nos faz cultivar o discernimento; a tristeza nos conscientiza sobre a necessidade de abandonar o passado e atualizar nossas percepções do momento presente.

Quando uma dor emocional não é resolvida, ela se volta contra a própria pessoa. Surgem sentimentos de culpa ou de inadequação, ressentimentos que acabam por se expressar no corpo através de dores de cabeça, asma, distúrbios digestivos ou outros sintomas próprios das doenças psicossomáticas. Portanto, mesmo que não queiramos encarar nossas emoções, somos obrigados a reconhecê-las e senti-las. É melhor evitar que se acumulem dentro de nós como tarefas emocionais inacabadas. Quando estamos emocionalmente confusos, nossa mente se desloca em várias direções ao mesmo tempo e intensifica nossas avaliações. Nossos pensamentos e sentimentos tornam-se ineficazes, não sabemos mais qual direção seguir.

É preciso reconhecer a negatividade para se separar dela

Certa vez, disse a Lama Gangchen: “Acho que estou conseguindo olhar de frente para a negatividade”. Ele respondeu: “Olhar é bom, mas não a toque”. Veja a negatividade como quem olha o noticiário da TV. “Você escuta as notícias negativas, mas não deixa que elas entrem em sua casa”. Não podemos parar o mundo, mas podemos parar a nós mesmo. Parar não é perder tempo, é gerar forças para seguir em frente.

Guelek Rinpoche nos alerta: “O primeiro passo para sair de um problema é criar a forte determinação de ficar livre dele. Essa determinação deve ser feita mesmo quando ainda se está preso ao problema”.Para sair do sofrimento, precisamos, antes de tudo, aceitar a situação em que nos encontramos. Em seguida, munidos da determinação de deixar o sofrimento, temos que nos posicionar em direção à porta por onde queremos sair. Apesar de sabermos intelectualmente que sempre há uma saída, a maior parte das vezes não a enxergamos.

Exagerar uma emoção é uma forma de rejeitá-la

A rigidez é um sintoma de que estamos ressentidos. E quando nos sentimos ressentidos, tornamo-nos reativos: surge em nós o impulso de agredir quem nos magoou e nossa energia automaticamente se esvai. Deixamos de ser “donos de nós mesmos” e nos tornamos presas da necessidade de tirar satisfações com quem nos feriu. Não percebemos que agindo assim estamos transferindo enorme poder para o outro. Quando pensamos: “Enquanto eu não tirar isso a limpo, não sossegarei”, o sossego ou a nossa calma passam a estar subjugados à capacidade de entendimento do outro.  “Sempre que eu encontrar pessoas cheias de maldade e emoções obscuras e violentas, devo considerá-las tesouros preciosos”, os momentos nos quais somos provocados justamente nos oferecem a oportunidade de aprender a despertar a tolerância frente à provocação. Por isso, as pessoas tidas como inimigas são preciosas: só elas podem nos ensinar a ter a verdadeira paciência.

A ética é um estado de espírito que se abstém de se envolver em qualquer situação ou acontecimento que pode ser, ou vir a se mostrar prejudicialmente aos outros. Por tanto, o primeiro passo é prestar muita atenção ao que estamos fazendo, observar o que faz bem e o que não faz – tanto para nós como para os outros – e depois renunciar ao que verdadeiramente não é bom.

VIII Como abrir mão de uma visão egocentrada para ter boa auto-estima

Começamos a viver esta contradição muito cedo em nossas vidas. Desde pequenos, aprendemos que é feio sermos egocentrados: “Se você for egoísta vai ficar sem amigos”, “ Deixe os outros se servirem primeiro”, pouco nos falaram sobre como ter uma boa auto-estima, sobre amarmos a nós mesmos. Conforme crescemos, começamos a perceber que o modo como nos relacionamos com os outros reflete o tipo de relacionamento que temos conosco. “Se não sabemos como amarmos a nós mesmos, não temos condições de amar os outros”, isto pode ser um velho clichê, mas contém uma grande verdade. A auto-estima gera um sentimento de segurança e paz interior. Paz significa falar e trabalhar levemente, com uma postura agradável. Gestos violentos, xingar, tiram a nossa paz. A paz é tanto ativa quanto passiva. Não é só contemplativa, é também, energética. É ter uma mente saudável: relaxada e acordada ao mesmo tempo.

É verdade que não podemos controlar os acontecimentos, mas podemos controlar nossas reações ou o modo como iremos vivenciar aquilo que nos aconteceu. Ou seja, não importa aquilo que fizeram conosco, mas sim aquilo que fazemos com o que fizeram de nós.

Temos que ter a habilidade de escolher pessoas dignas de nossa confiança. Lembro-me de certa vez em que precisava decidir se dava um telefonema no qual me arriscava a escutar um não,ou se devia “me calar para sempre”. Quando decidi telefonar e encarar o medo da rejeição, escutei uma voz interna que me disse: “Você ainda poderá se tratar bem, mesmo que seja maltratada pelos outros”.

Compartilhar o silêncio com alguém
Em geral, falamos muito mais do que é preciso. Desperdiçamos energia vital ao falar demais. Muitas vezes, justamente porque falamos demais, não somos ouvidos. Existem momentos em que o melhor é ficar em silêncio.


A essência da vida
Não vejo a diferença entre estar no ano 2000 ou no ano 900. Os números são só uma forma de contar o tempo. Se todos os dias a gente fizer coisas boas a mais e coisas ruins a menos, vai ser possível a gente se libertar do sofrimento antes do século terminar. Se estivermos sempre esperando dias melhores para então sermos felizes, estaremos constantemente resistindo a viver nossa vida.
Como despertar a mente ao acordar de manhã
Lama Michel muitas vezes fala em seus ensinamentos sobre a importância de corrigir nosso estado mental assim que acordamos. É interessante observar nosso primeiro pensamento ao acordar. Em geral, não nos damos conta disso, mas esse pensamento revela como estamos conectados à vida. Lama Michel nos inspira a pensar: “Que eu possa fazer neste dia alguma coisa de bom a mais e uma coisa de ruim a menos”. Depois, antes de dormir, devemos fazer uma avaliação de como vivemos este dia. Então, quando acordamos de manhã, poderemos ajustar nossa motivação de estar vivos dizendo-nos algo como: “Que eu hoje possa me tornar uma pessoa melhor, e que a minha presença possa inspirar outras pessoas a se sentirem melhor também.”.
O Caminho Mahayana nos incentiva a usar as Seis Perfeições como a base de nossa pratica diária. Assim, podemos focar uma delas como sendo a qualidade a qual iremos nos dedicar neste dia. As Seis Perfeições são: Generosidade, Moralidade, Paciência, Esforço Entusiástico, Concentração e Sabedoria.
A moralidade é uma prática que mantém a mente saudável
Por meio da moralidade e da disciplina, nossas ações serão claras e poderemos confiar nela. Uma vez que não temos dúvidas de como agir, não sentimos medo de nossas decisões, pois temos consciência de que a realidade que vivemos é o resultado de nossos próprios pensamentos.Assumir a responsabilidade por uma ação significa assumir responsabilidade por nós mesmos.
XI A natureza do sofrimento
A realidade externa é, por natureza, incerta, portanto, não podemos ter garantias com relação a ela. A pessoa insegura é justamente aquela que busca controlar a realidade externa. Ao conviver com mestres budistas, passei a notar uma forte característica comum a todos eles: eles vivem a vida, ao invés de tentar controlá-la.
Hoje em dia, tem aumentado o número de livros e artigos em revistas que buscam definir o que é ser feliz. Acredito que ser feliz é ter, cada vez mais, uma mente aberta, capaz de aceitar as diferenças entre nós e os outros, ter disposição e um sentido maior para superar as dificuldades, e, por fim, deixar o mundo a nossa volta um pouco melhor do que era quando nele chegamos e, assim, podemos, ao morrer, partir mais leve.
A felicidade depende da clareza interna
Identificar nossas limitações não é o problema. Mas é preciso verdadeiramente aceitá-las. Sermos sinceros conosco. Caso contrário estaremos sempre transferindo para os outros nossas próprias dificuldades. Quando tratamos os outros com ironia e sem afeto, estamos na verdade reagindo a uma dificuldade pessoal e nem nos damos conta de quanto sofrimento estamos criando para os outros e para nós mesmos. Não ferir os outros é uma ação preventiva para não ferirmos a nós mesmos.
As Oito Nobres Atitudes ou Passos corretos são: o entendimento correto, a intenção correta, a fala correta, a ação correta, o modo de vida correto, o esforço correto, a concentração correta e a meditação correta.

XII Lidando com as encruzilhadas da vida

Nos momentos de encruzilhada, enquanto não sabemos que rumo uma situação vai tomar, a melhor atitude é enxergar, a cada instante, exatamente o que temos a nossa frente. Quando estamos encurralados, sem saída, terminamos por nos questionar sobre o sentido de nossas vidas. Surgem então as três perguntas fundamentais: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Um ditado budista diz: “Só enfrente um inimigo quando você estiver mais forte do que ele. Até lá, continue a se fortalecer”.

 A fala correta – surge do pensamento correto. Trata-se de não mentir, não falar mal dos outros, não caluniar, nem fofocar. Temos que usar nossa fala para criar harmonia, beneficiar as pessoas. No entanto, quando estamos sobre pressão, sem saber para onde ir, usamos nossa fala como uma arma de defesa. Nossa agressividade aumenta e “falamos qualquer coisa” de modo desordenado: estamos pedindo por ajuda, mas, agindo assim, nos tornamos, na realidade, destrutivos. O melhor é saber silenciar até recuperarmos a clareza interior. A fala correta também envolve a escuta correta – o que significa observar as coisas do modo como são, em vez de aceitar de imediato qualquer coisa que nos digam.

 A ação correta – surge da intenção correta. Oferecer ajuda material, dar proteção e amor. Assim como não matar, não roubar, nem cometer adultério. A ação se torna correta porque resulta de um pensamento que superou o egocentrismo e está de acordo com independência. Em outras palavras, é uma ação na qual você não se vê separado dos outros. Mesmo estando numa encruzilhada, podemos dar um bom exemplo, isto é, servir de inspiração para aqueles que nos acompanham naquele momento de crise. São momentos de pressão que realmente revelam nosso caráter e integridade. Manter os nossos princípios de honestidade e lealdade em situações de crise é altamente organizador. Sentimo-nos alicerçados e protegidos por nossa postura interna.

O modo de vida correto – nossos hábitos cotidianos expressam nossa consciência do outro e do meio ambiente. Nosso modo de viver deve levar em consideração outros seres, a dignidade própria e o respeito aos demais. A certeza da continuidade torna-nos pessoas responsáveis: sabemos que teremos de abraçar as conseqüências positivas ou negativas de nossas próprias ações. Os momentos de crise nos ajudam a refletir sobre o significado de nossas ações. Podemos reavaliar quanto tempo e energia vital dedicamos a situações desatáveis que apenas nos consumem ao invés de gerar e acumular energia positiva. Os momentos de crise são também oportunidades para mudarmos nosso estilo de vida e adquirir hábitos mais saudáveis. Se não temos condições de gerar benefícios, já será um grande passo nos abstermos de ações que causam danos, seja para nós mesmos ou para os outros.



O esforço correto – “Esforço sem perseverança cansa. O importante é saber sempre para onde vamos e por que nos esforçamos” foi o que Lama Gangchen Rinpoche disse em frente à Stupa Borobudur. Éramos mais de cem pessoas começando uma longa caminhada em torno do monumental mandala de pedra na Indonésia, às cinco horas da manhã. Sono, calor, sede, cansaço físico, deixam de ser obstáculos quando sentimos que estamos fazendo algo positivo. Em outra oportunidade, estando na mesmo situação, Lama Gangchen nos disse: “Para fazermos coisas negativas não temos preguiça, mas para realizarmos as positivas precisamos de muita força de vontade”. Em situações difíceis, temos, muitas vezes, que tolerar o intolerável. Nos momentos em minha vida em que tive que suportar situações críticas, dizer a mim mesma: “Agora é difícil, mas vale a pena passar por isso agora, pois esta situação me levará a um futuro melhor” sempre me ajudou. De fato, hoje sou grato pelos esforços que soube gerar nestas situações.

A situação correta – a concentração nos mantém focados em nossos propósitos e princípios. A concentração correta é um estado de relaxamento, abertura e atenção ao mesmo tempo. Isso me faz lembrar uma vez que estávamos com Lama Gangchen visitando o quarto de Sua Santidade Dalai Lama, no Monastério de Será Me no Sul da Índia. Éramos um grupo de quase 30 pessoas, e não tínhamos muito tempo para estar lá. Apesar de andarmos em fila, uns queriam tirar fotografia, enquanto outros queriam parar para rezar. Num certo momento, Lama Gangchen percorreu velozmente a fila dizendo inúmeras vezes em voz baixa: “Quick and relax”. Isto é, rápido e relaxado. Guardo suas palavras até hoje em minha mente e procuro ouvi-las novamente quando necessito agir de modo rápido, porém sem tensão.

XIII Quando ser feliz é saber  não sofrer desnecessariamente

Segundo os ensinamentos tibetanos, os cavalos dividem-se em quatro categorias: os excelentes, que nem precisam ser tocados para seguir uma ordem , pois já se movem com a sombra do chicote; os bons, que se movem com uma leve chicotada; os medíocres, que não se movem enquanto não sentirem a dor da chicotada; e, finalmente, os péssimos, que esperam a dor da chicotada penetrar até o meio dos ossos para então se moverem. Quem não se identifica com uma destas quatro categorias no modo como leva a vida? Infelizmente, muito de nós sofrem além do necessário para aprender a não repetir os mesmos erros que causam sofrimento.

A ciência, ao estudar a felicidade, chegou à mesma conclusão. Uma pesquisa se realiza pelo World Value Survey (sediado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos) registrou a porcentagem da população que diz se sentir feliz, em 65 países. Os sete primeiros colocados são países do Terceiro Mundo: Nigéria, México, Venezuela, El Salvador, Porto Rico, Vietnã e Colômbia. A ciência acabou por derrubar, assim, os mitos de que ser feliz é ter dinheiro ou encontrar o grande amor de sua vida.

Como colocar um fim à dor emocional

Cheguei a perguntar para Gueshe Sherab: “Será que sem essa dor continuarei aprendendo tanto quanto aprendi ao senti-la?”. Ele riu e me respondeu: “Você não precisa chamar a dor para evoluir, pode ter certeza que sempre haverá sofrimento suficiente para aprender algo com ele. Quando a mente não está sobrecarregada com uma dor intensa, pensa melhor”. Se estivermos sofrendo pela mesma dor há muito, devemos identificar o momento de nos desapegarmos dela. Parece óbvio que ninguém deseja se apegar à dor. Na realidade, porém, desapegar-se dela talvez seja um de nossos maiores desafios.

XVI Quem não conhece a desagradável sensação de estar irritado?

Muitas vezes nós nem nos damos conta do momento em que começamos a nos irritar. E, de repente, nossos músculos tornam-se tensos, sentimo-nos abafados em nosso próprio corpo. A irritação é energia malparada, mal-elaborada, maldirecionada. Nos tornamos impacientes, intolerantes à frustração, aos ruídos a às aglomerações. Qualquer estímulo surge como uma provocação: queremos distância, espaço e tempo! Quando estamos sob o domínio da irritação, tornamo-nos insensatos, não dizemos coisa com coisa e até mesmo passamos a nos contradizer. Em geral, quando estamos irritados, ficamos menos empáticos e temos dificuldades em aceitar opiniões diferentes da nossa, o que aumenta nossos problemas de relacionamento. Por exemplo, escutamos alguém nos dizer algo e, antes mesmo de compreender o sentido do que foi dito, reagimos de maneira explosiva, respondendo com insultos ou até violentamente.

A pessoa ou situação que nos irrita, na verdade, indica onde guardamos uma grande porção de energia reprimida: representam a nossa sombra, isto é, tudo que negamos em nós mesmos. A sombra diz respeito àquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também àquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Portanto, se aceitarmos a irritação como uma oportunidade de autoconhecimento, vamos observar o que nos irrita com uma nova disposição.

A irritação é uma reação a uma sobrecarga do passado

A irritação por sua vez sustenta um sentimento de carência. Quando irritados, nós nos sentimos mal-amado e sem capacidade de dar amor. Quando irritados, não gostamos de ser acariciados e nem temos disposição para abraçar quem gostamos.

Responder a pergunta: “O que torna esta situação tão importante a ponto de me perturbar assim?” permite-nos compreender por que somos fiéis depositários das agressões externas. É preciso identificar os medos que nos mantêm presos às falsas dependências. Como, por exemplo, o medo de lidar com o sentimento de abandono ao ver que não adianta manter a esperança de ser amado por quem já sabemos que não nos ama. Neste caso, ao responder: “O que pode ocorrer comigo se eu continuar assim?”, você poderá admitir que está perdendo tempo e energia ao nutrir esta falsa esperança. Como diz a astróloga Márcia Mattos: “Vale a pena abandonar quem nos abandonar!”.

Não podemos controlar as situações exteriores, mas podemos controlar como nossa mente irá reagir a elas. Em geral, a irritação passa quando conseguimos nos posicionar frente a nós mesmos. Isto é, quando recuperamos as rédeas de nossa mente.

Outro dia, eu estava muito irritada. Quando me dei conta que estava levando a sério algo que eu considerava absurdo, comecei a rir. Pensei: “Isso é tão absurdo que não é digno nem de ser considerado”. Querendo compreender como poderia me adaptar àquela situação, estava cada vez mais presa a ela! Foi quando compreendi que o segredo estava em sair da situação... Encontrei então, uma solução totalmente nova, na qual pude me desconectar da situação que me irritava.

Muitas vezes, temos de nos dizer que tudo está bem, mesmo quando tudo não vai bem. É hora de suavizar e reverter, fazer as pazes. Quando passamos lidar positivamente com alguém ou com uma situação à qual estávamos reagindo negativamente, a energia muda: surgem soluções inesperadas. O que nossos inimigos menos esperam é serem bem tratados pos nós. Quando deixamos de ser reativos, rompemos o hábito de nadar contra a correnteza. Não ser reativo não é o mesmo que ser submisso ou passivo. Muito menos ser capacho de egos afoitos. Não ser reativo é saber distanciar-se para contemplar o fluxo dos acontecimentos e, então, com a nova visão, participar daquela realidade com calma e clareza. Quando estamos bem centrados em nosso eixo de paz interior, somos também capazes de perceber quando é hora de agir – reconhecer o momento em que ser ativo é um ato de boa auto-estima e responsabilidade. Não devemos ser cúmplices de situações que consideramos desequilibradas, ilícitas ou falsas. Nossa auto-estima nos orienta a tomar decisões sobre quando devemos entrar, permanecer ou sair da situação.

Quando estamos irritados, somos crianças com sono: ficamos extremamente vulneráveis, tudo nos perturba. A irritação nos toma vítimas fáceis das circunstâncias, o que nos faz sentir cada vez mais enfraquecidos e importantes diante da vida. Portanto, é melhor, literalmente ir dormir e, quando estivermos descansados, reconsiderar então nossos julgamentos. Somente ao descansar é que o sistema nervoso poderá se recuperar e, assim, a irritação naturalmente pode desaparecer.

XV Como gerar energia de uma frustração

O Budismo Tibetano afirma que existem duas formas de sair do sofrimento. Uma é através da sabedoria, a outra, através do próprio sofrimento, que, quando atingem níveis insuportáveis, mobiliza o desejo sincero de saná-lo. Parece óbvio que o melhor método é o primeiro. O budismo ensina que primeiro devemos apenas ouvir, depois questionar, em seguida meditar, para então colocar em prática nossas conclusões. Neste sentido, o Budismo nos incentiva a investigar, em vez de duvidar.

XVII A natureza da preguiça

Os mestres budistas costumam nos dizer: “Temos que tratar nossos inimigos externos com gentileza senão eles crescem, assim como temos que tratar nossos inimigos externos com firmeza, senão eles também crescem”.

XVIII Como despertar esforço e perseverança para realizar o propósito de sua vida

Se vivermos apenas em função de prazeres imediatos, estaremos despreparados quando enfrentarmos as questões relativas à perda e à morte. Para saber se nossa vida tem sido significativa, basta nos perguntarmos se nos sentimos prontos para morrer. Se surgir a sensação de arrependimento, é porque ainda estamos perdendo tempo e temos de nos empenhar mais em nossos propósitos!

Muitas vezes, a determinação de beneficiar os outros surge quando fomos muito prejudicados ou sofremos perdas realmente violentas. A dor profunda nos leva a buscar um sentido maior ou uma razão mais forte para estarmos vivos. Em meu trabalho de psicoterapia, acompanhei muitas mães que perderam seus filhos de modo violento e precoce. Considero a dor da perda de um filho um dos maiores sofrimentos humanos. Muitas delas me disseram que assim que souberam do falecimento de seus filhos, desejavam morrer para irem ao encontro deles. No entanto, escolheram viver quando tornaram suas vidas significativas, podendo de alguma forma beneficiar outras pessoas. Certa vez Lama Zopa disse-me diretamente: “Quando você tiver dúvidas entre duas soluções, escolha a que beneficie um número maior de pessoas”.

Muitas vezes, dedicar nossa energia aos outros nos leva à exaustão. Sempre há alguém solicitando um pouco mais. Há poucos dias escutei um conselho de meu médico, Dr. Eliezer Berenstein, que me fez parar para pensar. Ele inicialmente falou: “Bel, você deve buscar por justiça”. Surpresa, repliquei: “O que é justiça?”. E ele me disse: “Justiça é o equilíbrio de saber deixar de dar energia para aqueles que não sabem recebê-la, e dar energia para aqueles que a necessitam e ficam agradecidos por tê-la recebido”. “Se você não souber fazer isso, ficará exausta...”.

O poder da constância

Lama Michel Rinpoche costuma nos dizer: “É melhor andar como a formiga do que saltar como a pulga. A formiga, apesar de dar pequenos passos, sempre avança e jamais descansa, enquanto a pulga dá grandes saltos, mas fica um longo tempo parada antes de dar o próximo pulo!”. Não devemos confundir coragem com excesso de confiança. Negar os perigos, pensando “comigo não vai acontecer nada ruim” evidencia um ego inflado. Frente à negatividade não deve haver negociação, temos de ser assertivos, o que não significa sermos rígidos.

Coragem de não se deixar levar pela fraqueza alheia

Quando somos vistos como uma pessoa forte, corremos o risco de nos tornar presas fáceis “tirania dos fracos”. Eva Pierrakos: “Não existe Tirania mais forte que aquela que uma pessoa fraca exerce sobre os mais fortes, ou sobre todo seu ambiente. É como se essa pessoa estivesse sempre dizendo: ‘Sou tão franca! Você tem que me ajudar. Sou tão indefesa! Você responsável por mim. Os erros que eu cometo não contam porque eu não sei fazer do outro modo. Eu não posso evitar. Você deve ser indulgente comigo todo o tempo e permitir que eu escape das conseqüências. Eu posso falhar porque sou fraco. Você é forte e, portanto, tem que compreender tudo. Você não pode falhar porque o seu fracasso iria me afetar”.
Coragem: equilíbrio entre prudência e audácia

“A vida nos apresenta problemas que não podem ser resolvidos com velhas fórmulas. Esses problemas são os que exigem uma mudança em nossa vida. Temos consciência disso, mas não queremos aceitar. Forçamos uma solução para um problema novo, fingindo que, embora não seja muito adequada, é quase. É claro que ela não é adequada. Só estamos pondo em prática o princípio do avestruz, de enfiar a cabeça na areia e esperar que o problema se resolva. Se, por medo ou radicalismo, damos continuidade a esse comportamento por muito tempo, começamos a ser a causa real de nosso próprio sofrimento.”


XX Ter coragem para seguir em frente
     
A capacidade de continuar nos ajuda a perceber que nenhum problema é sem saída. A melhor maneira de nos libertamos do passado é fazer as pazes conosco mesmos no momento presente. Fazer as pazes com quaisquer lembranças ou sentimentos que possam surgir. Continuamos simplesmente a seguir em frente. Nada mais nos faz parar.

Coragem é a habilidade de mover-se para o futuro, sem olhar para trás, desapegar-se do passado. Lembro-me de um fato ocorrido com Lama Segyu Rinpoche. Ele me contou que, anos após ter ido morar nos EUA, encontrou na casa de sua mãe uma caixa fechada remanescente da mudança. Não teve dúvidas: colocou fogo na caixa sem abri-la. “Assim, não despertaria a mente do apego”, disse-me ele. Uma vez que passara tantos anos sem precisar das coisas que estavam naquela caixa, não era necessário abri-la para saber que o que ela continha era carga extra. Isso muitas vezes me inspira a não remexer em histórias passadas que já esgotaram seus enredos. Em muitos momentos, é preciso saber conter a curiosidade e colocar fogo nas nossas “caixas”, antes que não possamos mais controlar o impulso de abri-las.

Nyang-de: ir além da mágoa
     
Quando nos conscientizamos de que estamos resistentes em aceitar uma mudança iminente, é útil nos perguntar: “O que é preciso morrer agora dentro de mim, para nascer nesta nova fase com força e confiança?”. Uma resposta é certa: nossas mágoas. Carregar mágoas nos faz sentir cansados e sem vontade de iniciar novos projetos. Elas revelam o quanto estamos estagnados por limitações internas e externas. Ficar presos a elas consome nossa energia vital.

XXI Fé e Confiança

 Neste sentido, confiar é dar crédito a algo que nos desperta a sensação de segurança. Assim como o ato de dormir: é preciso sentir-se seguro para entregar-se ao sono. Lembro-me quando Lama Michel visitou uma Instituição no Rio de Janeiro que dava abrigo às crianças de rua. Muitas delas dormiram enquanto ele falava. Inclusive uma deitou-se debaixo da cadeira na qual ele estava sentado. Fiquei tocada ao escutar uma das assistentes me dizer: “O fato deles dormirem é um sinal muito positivo, pois indica que eles se sentiram seguros com a presença do Lama Michel. A maioria deles passam a noite acordados, pois não se sentem seguros para dormir”.

Confiança Lúcida

A confiança nasce da constância. A lealdade mútua gradualmente cria as condições para que ela seja estabelecida. Na maioria das vezes, quando a confiança básica num relacionamento é rompida, dificilmente volta ser reconstruída. Assim como quando um cristal se rompe: não é possível juntá-lo novamente. Por isso, para cultivar vínculos duradouros, precisamos escolher amigos que compartilhem dos mesmos valores que os nossos.

Podemos ter perdido a confiança em alguém que nos traiu, mas não precisamos perder a confiança em nós mesmos, isto é, em nossa capacidade de conquistar um novo relacionamento de confiança com outra pessoa.

Um indício de que melhoramos nossa capacidade de confiar surge quando não estivermos mais interessados em aturar relacionamentos abusivos, e muito menos em sentirmos por eles atraídos. Dessa forma, a síndrome da “mulher que gosta do malandro” ou “o gosto por situações de alto risco” serão superados.

XXV Confiar: a primeira condição para nos reaproximarmos uns dos outros.

Em seus ensinamentos, Lama Gangchen muitas vezes nos fala sobre a importância de haver uma maior aproximação entre as pessoas. Ele usa o exemplo da relação entre um médico e o paciente: quando o paciente sente-se próximo ao seu médico, segue suas instruções com atenção – um sinal de confiança e de aceitação de sua cura. Do mesmo modo, a proximidade entre pais e filhos, casais, amigos e instituições, desperta respeito, amor e abertura para trocar idéias e crescerem juntos.

Empatia: uma atitude naturalmente sábia e compassiva

Empatia não quer dizer tornar-se similar ao outro. Muito pelo contrário: ela surge à medida que nos tornamos receptivos às diferenças. Compreender o outro em sua particularidade é fundamental.

O delicado equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas necessidades.

“Co-dependente é uma pessoa que tem deixado o comportamento de outra pessoa afetá-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa.” Quando dizemos sim, mas na realidade queremos dizer não, quando fazemos coisas que não queremos realmente fazer, ou fazemos o que cabia aos outros fazerem, estamos sendo co-dependentes e não pacientes e nem mesmo generosos! Uma atitude co-dependente pode parecer positiva, mas, na realidade, está gerando baixa auto-estima e falta de confiança. Em outras palavras, se ao nos dedicarmos aos outros estivermos nos abandonando, mais à frente teremos de nos confrontar com as conseqüências de nossa atitude ignorante.

Stephen Levine nos dá uma boa dica para identificarmos se nossos relacionamentos são saudáveis ou não: “Na co-dependência, as balanças sempre perdem para um lado. É freqüente que um tenha de estar “por baixo” para que o outro se sinta “por cima”. Não há equilíbrio, somente a temida gravidade. Em um relacionamento equilibrado não há um “outro dominante”; os papéis estão em constante mudança. Quem tiver o apoio mais estável sustentará a escalada naquele dia”.

A troca equilibrada entre ceder e requisitar, dar e receber afeto e atenção nos aproxima de modo saudável das pessoas que nos cercam sem corrermos o risco de criar vínculos destrutivos. O desapego em um relacionamento não significa que não tenhamos necessidades ou que não prestemos atenção a elas. Se ignorarmos ou negarmos nossas necessidades cortamos uma parte importante de nós mesmos e teremos menos a oferecer ao parceiro.

Tchok She Ba: satisfação de aceitar as coisas como são

Aceitar nesta vida, com este corpo não é tão óbvio quanto possa parecer. Lama Michel contou-me que há uma palavra para aceitação incondicional em tibetano: Tchok She Ba: ter satisfação em aceitar as coisas como são. Tchok She Ba que dizer ter segurança interna para lidar com qualquer situação. Ou seja, ver a realidade sem a necessidade de transformá-la. Isto não quer dizer que devemos ser passivos e indiferentes diante da negatividade ou da injustiça que ocorre à nossa volta. Em geral insistimos inutilmente no desejo de sermos compreendidos ou de entender tudo e todos, mas, na realidade, sabemos muito bem que nem sempre isto é viável. Querer impor nossas opiniões, muitas vezes, denota nossa imaturidade. Existem situações em que já sabemos que não seremos compreendidos, e ainda assim temos uma necessidade infantil de sermos aceitos e reconhecidos de qualquer maneira.

Aceitar o outro sem precisar modificá-lo a nosso favor significa abrir mão da tentativa de controlar as situações. Quando abandonamos a necessidade de sermos compreendidos, ficamos menos suscetíveis às críticas alheias e ao mesmo tempo conseguimos ser menos críticos com os demais. Quando paramos de julgar os outros, nos sentimos mais leves. Aceitar o que não podemos mudar é, em si, uma atitude empática para conosco mesmos: abandonamos a atitude de aversão frente à vida e adquirimos coragem para lidar com a adversidade sem nos machucar.

Quanto mais transparência houver dentro e fora de nós, melhor será: ocorrerão menos interferências negativas. Podemos saber quando as pessoas se aproximam de nós com segundas intenções: elas não estão interessadas em tocar nossa essência e nem em se deixarem tocar. Elas estão focadas apenas nas vantagens das condições externas que podemos lhes proporcionar. Enquanto estivermos mantendo vínculos baseados apenas nas vantagens que podemos oferecer, estaremos sujeitos a ser traídos e abandonados: assim que a pessoa obtiver e confiar em nossa capacidade de cultivar relacionamentos saudáveis. Construir algo em conjunto aproxima e une as pessoas, pois elas se sentem inspiradas pela mesma meta.

Intimidade consigo mesma

O prazer de estar consigo mesmo cria a disponibilidade para estar com o outro. Pessoa chata é aquela que não consegue estar consigo mesma e espera que o outro a tolere! Se pararmos para observar o que pensamos a nosso próprio respeito, vamos nos dar conta do quanto nossa auto-avaliação possui o poder nos aproximar ou de nos distanciar de nós mesmos.



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A autora nos convida a questionar as convicções profundas que alimentamos a respeito de nós mesmos e a aceitar o desafio de acolher irrestritamente todas as nossas emoções sem as rotular como boas ou ruins. E é desse modo que vergonha, frustração, autossabotagem e autoestima, irritação, medo, morte e luto são temas visitados. Tendo como base para sua reflexão o Budismo Tibetano, Bel Cesar nos inspira a recuperar a confiança básica na essência pura da mente por meio da constante abertura, confiança e coragem para olhar com entendimento e compaixão tudo com que deparamos em nossa vida. Há também indicações de meditações que farão o leitor se familiarizar com os estados positivos da mente, além da descrição clara e concisa de conceitos que, no âmbito da psicologia do Budismo Tibetano, servem de base para a sua reflexão.

Mais uma vez Bel César, autora do livro "Morrer não se Improvisa", se dispõe a compartilhar sua experiência pessoal e nos oferece a oportunidade de refletir sobre um tema raramente abordado de um modo sincero e abrangente: a verdadeira natureza de nossas emoções. Neste livro, ele nos convida a questionar as convicções profundas que temos a respeito de nós mesmos e a aceitar o desafio de acolher igualmente todas as nossas emoções sem rotulá-las como boas ou ruins. "Quando conseguimos realizar a alquimia de uma verdadeira aceitação dentro de nós, as circunstâncias externas também passam a mudar, pois quando algo é verdadeiro surgem as afirmações!"

*O Livro das Emoções - Reflexões Inspiradas na Psicologia do Budismo Tibetano
Autor
Cesar, Bel
ISBN
8575550357
Editora
Gaia (Brasil)
Idioma
Português
Acabamento
Brochura

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