O BUDISMO COMO PSICOTERAPIA


O Budismo como Psicoterapia 

Pensa-se popularmente hoje em dia que o Buddhismo é uma religião que contém numerosos mitos, tradições e práticas místicas. Para clarificar este ponto, desejo chamar a vossa atenção, para a diferença entre as práticas e crenças do Buddhismo original e as do Buddhismo moderno. É importante não confundir o Buddhismo moderno, como o que se pratica em diferentes culturas e sociedades, com o que foi ensinado e praticado por Gotama o Buddha e os seus discípulos. O que se pratica hoje na maioria das culturas Buddhistas, sejam Theravada ou Mahayana são principalmente rituais e cerimónias associadas com dogmas tradicionais ou visões do mundo e objectos de veneração, adoptados emocionalmente. Este tipo de Buddhismo não é diferente de qualquer outra religião com diferentes dogmas, rituais e símbolos de adoração, que servem só para a humanidade reduzir temporariamente as ansiedades e preocupações da vida, agora e no futuro.

Completamente distinto do Buddhismo moderno, é o Buddhismo Original, que era uma solução prática para o problema básico da ansiedade que esconde todas as nossas preocupações diárias, problemas e atribulações.

Sem compreender esta distinção, não é possível examinar o aspecto psicoterapêutico do Buddhismo. Portanto, quero enfatizar neste momento, que quando uso a palavra 'Buddhismo', refiro-me a esse Buddhismo Original e não a nenhuma forma de Buddhismo moderno praticado por algumas culturas de hoje.
Ao falar dos aspectos psicoterapêuticos do Buddhismo, apresentarei a minha posição moderadamente.

Prefiro dizer que o Buddhismo é uma psicoterapia completa.

A minha hesitação em fazê-lo, é porque seria um choque, para o Buddhista culturalmente devoto.
Mesmo assim, quero recordar àqueles familiarizados com o Buddhismo, que o Buddha disse no Anguttara Nikaya que podia ser possível uma pessoa dizer, ter estado livre de enfermidade física por cem anos, mas não era possível uma pessoa afirmar ter estado livre de enfermidade mental por um só dia, excepto um Arahant ou discípulo aperfeiçoado, ou um Buddha. É reconhecido por todos os eruditos Buddhistas que o propósito último do Buddha de acordo com os Nikayas Páli era produzir Arahants. O Arahant era a culminação da Prática Buddhista Original. Se o Arahant é a única pessoa com perfeita saúde mental, o propósito do Buddha era produzir personalidades mentalmente saudáveis. Isto significa que o Buddhismo é uma psicoterapia ou talvez a psicoterapia última.

Nos Nikayas Páli, o Buddha foi chamado o Insuperável médico e cirurgião (anuttaro bhisakko sallakatto) e além disso, o insuperável treinador de pessoas (anuttaro purissa dhamma sarati). Expresso em linguagem moderna, estes termos podem ser interpretados como “o super psiquiatra” e “o treinador da super personalidade”.

 Permitam-me examinar o Buddhismo em relação aos conceitos psicoterapêuticos modernos, para descobrir se esta afirmação é correcta. Quando examino a história da evolução dos conceitos psicoterapêuticos modernos, verifico que todas as teorias e práticas modernas, estão centradas à volta de um problema importante, o qual são compreensíveis em termos das hipóteses estruturais apresentadas por Sigmund Freud (em 1923). Quase todos os sistemas terapêuticos modernos podem ser descritos em termos desta hipótese estrutural. Estes diferentes sistemas poderiam ser classificados de um modo geral em dois grupos, que são, (a) aquelas terapias que são principalmente relacionadas com o Id (“Isso”) e das suas expressões, e (b) aquelas que estão relacionadas principalmente com o Ego e das suas funções. As psicologias do Id, podem ser também vistas como terapias afectivas e as psicologias do Ego como terapias cognitivas. Não é possível discutir em detalhe estas diferentes terapias dentro dos limites desta palestra. No entanto quero chamar a vossa atenção para todo este importante problema psicológico revelado através da hipótese estrutural de Freud.

O motivo que me leva a procurar captar a vossa atenção para estas importantes concepções do pensamento psicoterapêutico moderno, é facilitar a introdução dos conceitos Buddhistas que fundamentam a técnica terapêutica Buddhista. Não serei capaz de fazer justiça a este tema, dentro da brevidade desta apresentação. Embora haja muitos aspectos na técnica terapêutica do Buddha, posso resumir os ensinamentos do Buddha para dar-vos a conhecer os princípios básicos nos quais assenta esta psicoterapia Buddhista. Não vejo melhor forma de introduzir estes princípios básicos que discutir os conteúdos do primeiro sermão do Buddha chamado Dhammacakkapavattana Sutta, que aparece no Samyutta Nikaya e traduzido por mim como "A Revolução da Roda da Experiência".

O primeiro ponto elaborado neste Sutta é que há dois modos extremos de viver, a ser evitados. Um é a procura do prazer sensual, o qual é bipolarizado como procura de prazeres sensuais e evitando a dor sensual (Kamsukallikanuyoga). O outro extremo é a auto-extinção através da auto-negação e do ascetismo (Attakilamatanuyoga).
Evitando estes dois extremos, o Buddha ensina um terceiro modo intermédio de viver (Majjima patipada) chamado o Sublime Caminho Óctuplo (Ariya Attangika Magga). Esta terceira via intermédia, consiste de uma consciência da realidade, e faz-se acompanhar de pensamentos, discurso, actos, e vida em harmonia com ela.

 Este ensinamento do Buddha pode ser facilmente entendido em termos da hipótese estrutural de Freud. A procura do prazer sensual não é nada mais que a actividade do Id. A ênfase especial do Buddhismo está no facto de que a satisfação do Id, através da procura de prazeres sensuais não conduz nem à saúde mental nem à felicidade.

 Este conceito não está de modo geral em conflito com o pensamento Freudiano porque Freud reconhecia que a maturidade emocional obtêm-se através da superação do princípio do prazer pelo princípio da realidade. Alguns psicólogos modernos ainda crêem que a satisfação do Id,  é de alguma forma necessária para a saúde mental. Isto, claro está, não é totalmente negado no Buddhismo como subsequentemente veremos.

A auto-extinção através da auto-negação é novamente, obviamente, a actividade do Super Ego. De acordo com o Buddhismo, sendo guiado inteiramente pelo Super Ego não conduz à saúde mental. Isto também é aceitável para o pensamento psicanalítico, que de acordo com Freud, uma total repressão do Id, conduz desta forma, à utilização de toda a energia psíquica disponível no Ego, nesta tarefa de repressão e portanto deixa o Ego incapaz de lidar com a realidade externa.

A forma intermédia saudável de viver, recomendada pelo Buddha, é alinhar o pensamento e a vida, em harmonia com a realidade, isto é sem dúvida a actividade do Ego, do ponto de vista Freudiano, já que, de acordo com Freud, a maturidade consiste em ser dominada pelo princípio da realidade, esta via intermédia do Buddha coloca-se a par com o conceito Freudiano da saúde mental, que é também aceite geralmente, por todos os psicoterapeutas modernos.

É, regra geral, também reconhecido na psicoterapia moderna, que um sentido adequado da realidade ou a capacidade de distinguir entre o mundo externo e o mundo interno dos desejos e dos impulsos, é um importante indício de saúde mental.
Nas doenças mentais graves, esta capacidade é considerada defeituosa ou totalmente perdida. Este sentido da realidade está presente em maior grau, no neurótico e no psicótico. No entanto os psicólogos modernos, admitem que inclusive, a pessoa normal não é perfeita nesta capacidade de distinguir a realidade, concordando assim com a posição Buddhista.
Um aspecto importante do desenvolvimento do sentido da realidade, é a capacidade de distinguir entre 'si mesmo' e 'não si mesmo', ou o que está sob controlo, e o que não está sob controlo. Freud reconheceu (em 1911) que a frustração do Id devido à impermanência dos objectos externos é o factor mais significativo no desenvolvimento do conceito do si mesmo na infância e a demarcação dos limites do ego ou a linha que separa o 'si mesmo' do 'não si mesmo'.

O psicoterapeuta Buddhista, deve assinalar-se, não representa o papel de doutor na sua prática terapêutica. O seu papel é o de um professor. A sua técnica de terapia é um processo de educação. Podemos ainda ir mais longe, e dizer que o Buddhismo é uma forma de terapia do Ego ou terapia cognitiva.

Através da educação, o sentido de realidade do paciente melhora. O conflito entre o Id e o Super Ego, assim como também entre o Id e a realidade, soluciona-se através da educação do Ego. Esta educação faz-se, primeiro, através da comunicação verbal pelo uso da razão e segundo, através da prática de meditação onde o paciente, ou mais correctamente, o estudante, é auxiliado, a tornar-se consciente da sua experiencia interna, que é observada como movimentos físicos internos e tensões, sensações e emoções e como imagens e conceitos mentais.

A primeira coisa que o estudante aprende, é que a bondade e felicidade não são opostas entre si, dado que a bondade é felicidade. Pondo em termos Freudianos, a procura de prazer do Id não é errada ou perversa, mas, o verdadeiro prazer, não é a sensação agradável, mas a felicidade interior. Esta felicidade interior alcança-se através do relaxamento e da tranquilidade em vez da estimulação dos sentidos, excitação, tensão e libertação da tensão. A felicidade alcança-se através da tranquilidade. Por outras palavras, o estudante é esclarecido sobre a necessidade de procurar a meta da tranquilidade, para assim satisfazer as três partes da personalidade, quer dizer o Id, o Super Ego e o Ego.

O Id é satisfeito porque a tranquilidade é a via para a felicidade.

O Super Ego, que procura fazer o que é bom e correcto, é satisfeito porque a tranquilidade é a via para ser bom.

O Ego é satisfeito porque a tranquilidade é a via realista para se ser feliz e bom e portanto a tranquilidade é realista. A tranquilidade também ajuda o estudante a estar em contacto com a realidade sem a interferência dos desejos e dos impulsos.

Desta forma o Ego, que procura ser realista, é satisfeito.

A procura deste objectivo harmonizador da tranquilidade que resolve o conflito interno e externo chama-se a Procura Sublime (Ariya Pariyesana) e esta forma de vida chama-se a Via Sublime (Ariya Magga) ou a Via Harmoniosa (Samma Magga). Este é também o caminho para a saúde mental (Arogya).
Esta explicação do ensinamento do Buddha em termos de conceitos psicológicos modernos não é feito, com vista a obter o apoio à posição Buddhista por parte da psicologia moderna, mas sim para fazer com que a posição Buddhista seja compreensível à mente moderna, que dispõe de conceitos de psicologia moderna, e para mostrar que a técnica psicoterapêutica Buddhista não é só relevante no mundo moderno mas também uma contribuição construtiva para o pensamento psicoterapêutico moderno.

O primeiro sermão do Buddha, que estamos discutindo, introduz a matéria anterior, e prossegue, continuando com a discussão do problema básico da ansiedade, chamado Dukkha. Esta ansiedade, de acordo com o Buddha, é experimentada em relação a sete situações básicas:

1) Nascimento;
2) Velhice;
3) Enfermidade;
4) Morte;
5) Encontro com pessoas e circunstâncias desagradáveis;
6) Separação de pessoas e circunstâncias agradáveis;
7) Frustração de desejos.

A totalidade da ansiedade é também apresentada como um “agregado” (khanda) ou corpo (kaya). Isto é a soma total de todos os fenómenos experimentados, analisados nos cinco agregados que são personalizados, para formar a experiência do "si mesmo no mundo". A totalidade destes cinco agregados de fenómenos personalizados, chama-se Pancupadanakkhanda. São também chamados Sakkhaya, que significa "corpo personalizado". Isto pode ser comparado com o conceito de "auto-imagem" ou "conceito de si mesmo" que é encontrado na psicologia moderna. Esta "auto-imagem", que é o resultado da personalização dos fenómenos, é vista pelo Buddha como a soma das ansiedades, e esta ansiedade é envolta através do processo de personalização que resulta no conceito de "ser eu mesmo" (Bhava). Todos os tormentos, ansiedades, medos e sentimentos de insegurança, que são básicos na vida, são o resultado deste processo de personalização (Upadana) e ser eu mesmo.

Este processo de personalização está associado com a sensação de poder, sobre o que foi personalizado. Portanto, a personalização é também vista, como o exercer do poder sobre "aquilo" (vasavatti). Deste ponto de vista, para remover a ansiedade básica que suporta a existência humana, é necessário despersonalizar totalmente (Upadana nirodha) os cinco agregados de fenómenos e remover o "conceito de eu mesmo".

Portanto, o propósito último do Buddhismo é produzir um indivíduo que é livre da experiência emocional do eu mesmo interior. Este é o indivíduo que é perfeito em saúde mental e que é chamado Arahant, o Merecedor. De qualquer forma este último estado é raramente alcançado, e a saúde mental de um indivíduo é medida de acordo com o grau em que o indivíduo perdeu a sua experiência de eu mesmo.

A questão parece ser a importância da fronteira do eu mesmo ou fronteira do Ego, do ponto de vista Freudiano. Isto é, a medida com que uma pessoa identifica as coisas no mundo como pertencentes a si mesmo, ou como parte de si mesmo.
Os limites do eu da pessoa anormal, é maior em circunferência do que os da pessoa normal. Os limites do eu da pessoa normal é maior em circunferência do que de uma pessoa super normal. Os limites do eu de uma pessoa super normal, é maior em em circunferência do que de uma pessoa sublime.

O Buddha, contudo, reconhece dois níveis de seres acima do nível normal; o super normal (uttari manussa) e o sublime (Ariya).
O processo de personalização é dependente do que é chamado Tanha, que em tradução literal é desejo, que é similar à ânsia Freudiana. Este desejo, ou Tanha, é triplo: o desejo de prazer, o desejo de existência e o desejo de não-existência.
É interessante notar que o conceito de impulsos Freudiano, o qual incluía o sexual e a preservação de si mesmo primeiro, e mais tarde proposto como os impulsos de vida e morte, parecem coincidir com este conceito Buddhista de Tanha. Parece que os psicólogos estão redescobrindo o que o Buddha descobriu, há 25 séculos.

Mesmo assim o propósito do Buddhismo vai mais além do propósito da psicologia moderna uma vez que é dirigido para o desaparecimento de Tanha.

De acordo com o Buddhismo, a saúde mental perfeita não se alcança, até que este desejo, tenha sido completamente desenraizado. Embora a psicologia moderna pareça estar satisfeita em fazer de uma pessoa anormal, normal, o Buddhismo tenciona remover o desconforto e a infelicidade, até da mente normal, produzindo a saúde perfeita. É interessante notar que o Buddha reconhece nove níveis de saúde mental acima do estágio normal.
Isto é discutido em detalhe num Sutta, no Anguttara Nikaya (A IV 44). Dos nove níveis super normais (uttari manussa) de saúde mental, o nono, chamado o nível sublime (Ariya bhumi) é posteriormente analisado em quatro níveis de personalidade:

1) O que entra na Corrente (Sotapanna);
2) O que Torna uma vez (Sakadagami);
3) O que Não Retorna (Anagami); e
4) O Merecedor (Arahant).

 A psicologia moderna, claro, parece não pensar que é possível remover este desejo ou ânsia totalmente. Mesmo assim Erich Fromm refere que o objectivo final de Freud era remover o Id por completo e cita Freud dizendo, "no lugar do Id deve estar o Ego." Isto parece apoiar a posição Buddhista.
O primeiro sermão do Buddha que estamos a discutir, prossegue, expondo a técnica pelo qual este desejo é removido.
Esta técnica, é chamada o Sublime Caminho Óctuplo que discutimos anteriormente como a forma intermédia de viver, que evita os dois extremos: a procura de prazeres sensoriais, e a auto-extinção através da "auto negação". Este Caminho Óctuplo começa com o que se chama Samma Ditthi, que é a consciência da realidade, compreendendo três factos importantes da vida:

1) Instabilidade (Anicca),
2) Incomodidade o Ansiedade (Dukkha) e
3) Impessoalidade (Anatta).

Anicca, ou instabilidade, é a natureza transitória de todo o fenómeno experimentado aos quais nos apegamos e personalizamos, pensando "isto é meu", "isto sou eu ou eu mesmo".

Dukkha ou Ansiedade é o que é experimentado, devido à experiência do que foi personalizado. Esta ansiedade é o resultado do choque entre o desejo por permanecer e a realidade da instabilidade. Aqui começamos a distinguir entre o desejo de permanência e o facto de que não exercemos nenhum poder sobre nada porque não podemos fazer permanente o que é impermanente. É este reconhecimento, do facto de que não temos poder, não só sobre objectos externos como também sobre o que está dentro do corpo que é identificado como ‘eu mesmo’. Por outras palavras, se a apropriação é vista como liderar o exercício do poder sobre o que é um facto em si, então não temos nada no mundo, nem sequer o que chamamos nós mesmos.
Portanto, não há base para o conceito "meu" ou "meu mesmo". Por outras palavras, o "conceito eu" é composto pelos nossos desejos ou impulsos.
Isto é, em termos Freudianos, a comprovação da realidade ou a distinção entre realidade e um desejo.
Desta forma obteremos o sentido saudável da realidade, que remove toda a ansiedade.
Este entendimento resulta num estado emocional de calma, felicidade, e amabilidade. Tal estado emocional, leva ao bom comportamento exterior, verbal e físico, que é respeitado como socialmente bom. Uma vida baseada nesta perspectiva e neste estado emocional e comportamental é uma vida harmoniosa.

E esta vida harmoniosa deve ser mantida e aperfeiçoada por meio da Prática Harmoniosa.

Ao discutir a Prática Harmoniosa chegamos a outro aspecto da terapia Buddhista o qual está em linha com os diferentes tipos de técnicas psicológicas que temos discutido. A técnica psicológica moderna que se alinha com esta prática, encontra-se sob o do que é chamado, Terapias do Comportamento. Esta prática pode ser descrita usando termos como dessensibilização, condicionante operante, e também a teoria de aprendizagem. O Buddha considera até os processos mentais como hábitos de pensamento que foram aprendidos e que podem ser desaprendidos, por conscientemente deter a sua repetição, e praticando constantemente, pensamentos saudáveis. Os pensamentos considerados saudáveis, são aqueles pensamentos que são tranquilizantes. Aqueles que excitam a mente e produzem tensão consideram-se prejudiciais.

O Buddhismo reconhece que os processos mentais afectivos ou excitações emocionares tem a sua raiz em processos mentais cognitivos, tais como a formação de conceitos ou interpretações de experiências. De acordo com o modo, de como interpretamos a situação, tornamo-nos excitamos emocionalmente, ou tranquilizamo-nos e relaxamos. Estas interpretações que produzem excitação são sempre associadas com um "conceito do eu” ou uma "auto-imagem".

Se habitualmente transportamos connosco más auto-imagens, tornamo-nos regra geral indivíduos tristes. Praticando bons pensamentos, começamos a eliminar estas más auto-imagens e cultivamos imagens de tranquilidade. A mente tranquila é capaz de observar a experiência subjectiva objectivamente e isto traz-nos o próximo passo, que é a Consciência Harmoniosa. Nesta Consciência Harmoniosa, tornamo-nos consciente da experiência subjectiva, objectivamente e pela prática constante desta consciência, começamos a despersonalizar a experiência subjectiva.

Desta forma, a perspectiva de personalidade (Sakkaya Ditthi) é gradualmente removida, seguida de uma remoção gradual de todo o pensamento de "Eu" e "Meu". Este processo gradual de despersonalização, também tranquiliza a mente e leva-a à experiência progressiva de níveis mais profundos de tranquilidade e felicidade, levando à perfeição da saúde mental com a completa erradicação da experiência do eu interior e o desenraizamento dos desejos, e ao desaparecimento de toda a ansiedade para sempre. Este estado último de saúde mental é raramente alcançado na prática moderna Buddhista, mas isto é o objectivo final do Buddhismo como foi ensinado há 25 séculos.

Estes princípios de psicologia Buddhista poderiam ser usados no mundo moderno e poderiam ser construtivamente usados por psicoterapeutas modernos. A limitação de tempo não me permite discutir em detalhe, neste ensaio, os variados casos onde o Buddha usou estes princípios no seu tempo. Pela mesma razão estou impossibilitado de discutir aqui alguns dos casos da minha experiência pessoal onde usei estes princípios. O mais importante de tudo é o uso destes princípios em nós mesmo. Gostaria de declarar, de passagem que testei na minha própria experiência a validade destes princípios.

Ao discutir o primeiro Sermão do Buddha chamado a Revolução da Roda da Experiência, desta forma, como um processo de transformação da personalidade de um individuo, desde o não saudável ao saudável, pode parecer que me tenha desviado do Theravada Ortodoxo, Mahayana ou qualquer outro tipo de tradição Buddhista. Mas como referi previamente, não estou discutindo nenhuma forma de Buddhismo moderno, pontos de vista ou práticas.
Estou discutindo o ensinamento e Prática Original do Buddha como se encontra nas fontes mais antigas reconhecidas por todos os eruditos, que não pertencem a qualquer escola moderna de pensamento. Espero que este esforço desperte o vosso interesse, em explorar ainda mais os primeiros ensinamentos do Buddha. Creio que se os psicólogos modernos fizerem um estudo sério destes primeiros ensinamentos do Buddha, tornar-se-ia num significativo ponto de viragem e alteraria o pensamento e a prática da psicoterapia moderna.

Possam todos os seres serem felizes

Bhante Punnaji

 
 
 
Fonte:http://www.amentemente.com/
 
 
Budismo e psicoterapia
 

É surpreendente o caminho que o campo da saúde vem percorrendo nos últimos anos. A onipresença do paradigma cartesiano que afirma a separação radical entre fenômenos físicos e mentais está finalmente sendo questionado de modo consistente e constante. Alguns cientistas e muitos profissionais, médicos e psicólogos, têm apresentado pesquisas e relatos clínicos mostrando como as doenças emergem de perturbações físicas e psicológicas combinadas, entrelaçadas. Já é considerado resultado da ignorância, deliberada ou não, acreditar que o que uma pessoa vive no plano das emoções, dos sentimentos e pensamentos é desconectado do corpo e seus processos.
A presença do Dalai Lama no Brasil teve uma significação religiosa e política, mas também uma outra de extremo valor : a de mostrar que há outra via de afirmação da conexão entre o que vivemos no coração e no espírito e os processos corporais na saúde e na doença.
Como assim?
Os ensinamentos budistas que o Dalai Lama enfatiza no ocidente falam sempre da importância das escolhas existenciais (“a vida é resultado de nossas escolhas”), da responsabilidade de cada um diante de si mesmo e dos outros, apontando que o estado de saúde depende não apenas da utilização dos recursos tecnológicos de diagnóstico e tratamento, mas que as experiências vividas dos indivíduos, o cuidado de si e de seus relacionamentos com as coisas do mundo, condicionam sua saúde e bem-estar. Diz ele: “É necessário compaixão por nós mesmos antes de poder oferecê-la aos outros”.
O Dalai Lama tem procurado encontrar os pontos de contato entre os ensinamentos de Buda e a ciência médica. Suas constantes reuniões com cientistas, médicos e psicólogos, o diálogo incessante na procura de pontos em comum que respeitem a diversidade de perspectivas, nos falam do seu objetivo de contribuir para a diminuição do sofrimento humano.
Esta procura pela integração de áreas aparentemente tão distintas de conhecimento – a ciência e o budismo – resulta em uma ampliação também no campo da prática profissional: psicoterapeutas utilizam intervenções na corporalidade, médicos começam a considerar o lugar dos medos, da ansiedade, do estresse, do luto e da saudade no aparecimento ou agravamento de doenças.
E, ainda mais, alguns psicoterapeutas estão construindo abordagens que integram não apenas as práticas advindas do budismo, como a meditação e a mindfulness (consciência alerta e em relaxamento, podemos traduzir), mas combinam algumas das concepções budistas do ser humano e do mundo com as de autores consagrados de escolas psicoterápicas como a Fenomenológica-Existencial. Para a Fenomenologia-Existencial o ser humano é indissoluvelmente conectado com o mundo e com os outros seres, vive no tempo como movimento e fluxo. Ambos, budismo e terapia existencial, promovem a atitude não-utilitária de relacionamento com os outros seres e o mundo. 
O importante disso tudo é a possibilidade de abrirmos o campo de percepção, sair da acomodação empobrecedora que nos faz ver a realidade do mesmo modo como há séculos. E considerar a transformação evidente no século XXI: a da integração dos diversos conhecimentos, da ciência e da filosofia, das tradições de sabedorias ocidentais e orientais.
 
Amaryllis Schvigerellen@medaumaideia.com.br
Doutorada em Psicologia e psicoterapeuta
2009
 
Fonte:http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=AOP0219
 
 
 
 
 
 
Psicologia Budista,a Base para a Psicoterapia

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Texto baseado no livro Psicologia Tibetana de Clóvis Correia de Souza Filho

Skandas: Os Cinco Componentes do Ego
Segundo a filosofia budista a crença num ego individual é a causa de todo sofrimento. O ego é a instância do nosso ser que tenta formar um conceito sólido e permanente a cerca de nós mesmos e do mundo. Como a nossa vida é feita de ciclos e de impermanência a tentativa de manter uma estrutura constante é ilusória, causando frustração e dor.
A psicologia Budista dedica-se a compreender o processo do ego e concebe a felicidade não como a satisfação de todas as necessidades apetitivas do mesmo, mas procura observar a compulsividade envolvida nas necessidades e aponta o caminho da libertação da dualidade, dos apegos e aversões.
Os cinco componentes do ego são: a forma física, a sensação, a percepção, a vontade do intelecto, a consciência.

  1. A forma física – O ego ao nascer se identifica com o corpo físico se percebendo como uma entidade separada da consciência cósmica.
  2. A sensação – O desenvolvimento do ego se dá pela capacidade de sentir o mundo através dos sentidos e assim auto proteger-se de ameaças exteriores. Qualquer experiência é sentida de três maneiras: agradável, desagradável e neutra. È a partir das sensações que reagimos ao mundo.
  3. A percepção – A percepção é a forma como interpretamos os estímulos sensoriais que estamos recebendo do mundo e consequentemente como reagimos a eles. Três maneiras de reações:
a) apego/paixão (sensação agradável) – Desejamos tudo que dá prazer ao ego.
b)repulsa/ódio(sensação desagradável) – Nos afastamos de tudo que ameaça a solidez do ego.
c)indiferença/ignorância (sensação neutra) – Ignoramos os fatos que não nos convém ou que queremos evitar.

Fórmula da Percepção
P.O. = N.C.S………R.I.
A percepção do objeto (P.O.) depende do nível de consciência do sujeito (N.C.S.), o que vai determinar o tipo de reação impulsiva. (R.I.).
Conforme reagimos, outra reação seguinte será gerada indefinidamente. Esta é a Lei do Karma que determina a continuidade da nossa existência.
A percepção do objeto pode ser feita de duas maneiras:
a) Dualista – È a reação que comumente temos numa relação de sujeito e objeto percebidos como entidades separadas.
b) Una -  È a reação que se dá a partir da compreensão da interdependência entre sujeito e objeto.
O Karma depende da relatividade da percepção entre eu e outro, causa e efeito, ação e reação.

  1. Vontade/Intelecto – A quarta etapa do desenvolvimento do ego é o ”a atuação do intelecto” que engloba todas as atividades que seguem a percepção e se traduzem numa vontade consciente. O intelecto fortalece o ego dando sentido à sua existência através da sua capacidade de categorizar, julgar, dar nomes, avaliar e classificar pessoas e coisas.
O intelecto nos leva a transcender as reações impulsivas e instintivas, tornando o pensamento mais elaborado a partir de especulações muito lógicas e racionais, mas também muito limitadas.
  1. Consciência – A consciência é formada a partir da integração das emoções e pensamentos que se retro alimentam sustentando e dando um sentido a novela do ego. As emoções e os pensamentos possuem uma imensa energia e movem o destino do mundo. Eles são constituídos de fantasias e respaldados por um universo simbólico que são os fundamentos da nossa estrutura de personalidade e do comportamento que temos como indivíduos frente ao mundo.

Resumindo: Os Skandas são os constituintes do ego e tentam dar um sentido de permanência e proteção, dentro de uma existência sujeita a impermanência e a dissolução. Seguem-se na seguinte ordem, ao tomarmos contato com um objeto através dos sentidos – reagimos a ele  com uma sensação instintiva  (aspecto físico)  – o que nos provoca uma percepção e uma reação impulsiva (aspecto vital) – em seguida intelectualizamos, julgamos a partir de nossas experiências (aspecto mental) – por fim projetamos no objeto nosso universo simbólico de fantasias, recheado de pensamentos e emoções que dão sentido ao nosso momento existencial com ele (aspecto psíquico).
O objetivo da psicologia budista é levar os indivíduos a reconhecerem suas projeções, transcendendo a noção dualista e fictícia de um ego separado, liberando a mente de ilusão e atingindo a mente iluminada, na qual os eventos são vistos como um sonho sem apego ou aversão.
 
Nello Júnior
Monge Budista da Escola Terra Pura da China. Hoje atua como leigo e é Professor de Yoga e de Meditação em Fortaleza.
 
Fonte:Nello Júnior-http://blog.opovo.com.br/yoga/psicologia-budista/
 
 

PSICOLOGIA BUDISTA

 
 
Depois de atingir a iluminação debaixo de uma figueira do Parque das Gazelas, em Sarnath na índia , Buda Shakyamuni fez o seu primeiro ensinamento, em que apresentou as Quatro Nobres Verdades sobre a vida:
 
  1. O sofrimento faz parte da vida;
  2. O sofrimento é causado pelos nossos apegos e desejos “como nos vemos”;
  3. Há uma forma de se libertar deste ciclo de sofrimento;
  4. Através do Nobre Caminho Óctoplo;
 
O Nobre Caminho Octoplo funciona como um manual de instrução de oito passos, que nos levam rumo à libertação do sofrimento.
 
Este processo engloba um sutra (ensinamento) chamado de os 12 Elos da Originação Interdependente. Este sutra nos revela como nos identificamos com as ilusões mentais que criamos e como sofremos por causa disso. Este circulo mental viciado que causa todo o nosso sofrimento chama-se Samsara.
 
Estes ensinamentos deixados por Buda nos levam rumo ao caminho que acaba com estas ilusões e consequentemente nossas aflições mentais e nosso sofrimento.
 
Eu estudo as terapias holísticas já há uns sete anos. Meu foco principal é a psicoterapia holística a qual eu encontrei bastante afinidade com a psicologia budista. A psicologia budista é muito clara e realista em relação às nossas aflições e questões existenciais. O budismo não é dotado de dogmas e por isso é muito sólido e prático em seus ensinamentos.
 
Se você estiver passando por algum problema, se está sofrendo, saiba que a maioria dos nossos sofrimentos são causados pela identificação excessiva que temos com nossos pensamentos. Muitas vezes nós supervalorizamos os problemas de tal forma que eles se tornam fonte de muito sofrimento. Eu posso te auxiliara a encontrar uma saída, esta saída está dentro de você, e juntos poderemos encontra-la.
 
Manoel Felipe
 
 

A meditação budista e atenção na psicoterapia

 
A associação mais notável entre o budismo e da psicoterapia é em relação à prática da meditação. Na filosofia budista, uma grande atenção é dada para a libertação da mente e encontrar a paz através da meditação. Isso requer respiração constante, ambiente tranquilo e uma capacidade de uma mente vazia de todos os pensamentos intervenientes ou estática. Assim, essencialmente, a meditação no budismo e meditação terapêutica são imagens de espelho as mesmas técnicas. Também congruente entre eles é que o objetivo final é alcançar mais insights penetrantes em processos emocionais e físicos, em auto-conhecimento e realidade e, assim, para o desenvolvimento da empatia e compromisso (Young-Eisendrath e Muramoto, 2002, p. 101 ).
No budismo, a sabedoria é o clímax do caminho óctuplo que é usado para guiar o caminho para a iluminação total. Há três estágios na educação que os budistas acreditam que são importantes para o desenvolvimento da sabedoria. Primeiro de tudo, a informação que pode levar a iluminação tem de ser aprendido a partir de uma fonte reconhecida. Então este conhecimento deve ser analisado quanto ao seu significado, relevância e implicações, tanto através da auto-reflexão e discussão aberta. A última fase é internalizar esse conhecimento e aplicá-lo para as suas próprias escolhas e ações.
Isto é, essencialmente, o processo de psicoterapia também. O terapeuta, que é educado no comportamento humano, quer o cliente para saber o que precisa ser feito para melhorar a sua vida, analisar o significado, importância e implicações dessas descobertas, e, finalmente, aplicá-las a sua própria vida. Portanto, não é surpreendente, dado essas semelhanças, que o budismo tem terapia influências em uma variedade de níveis.
Meditação mindfulness e mistura muito bem em Morita Therapy, que é uma marca de terapia de relaxamento psicológico/médico criado por japoneses, Morita Shoma. Morita terapia é essencialmente uma manifestação dos princípios e objetivos do budismo e da psicoterapia combinados. Em ambos, os entrevistados são convidados a abrir mão de suas ligações com os seus ideais por causa da realidade aceitar. De acordo com Young-Eisendrath e Muramoto (2002) o objetivo do budismo é a libertação de ilusões (p. 249) De forma bem similar, terapias de meditação e atenção são projetados para atingir os clientes, ajudando-os a concentrar-se sobre a realidade da sua situação em vez de permitir-se ser iludidos sobre a gravidade de qualquer situação que se sobrecarregá-los. Em outras palavras, como o budismo, o objetivo é colocar tudo em sua devida perspectiva. Embora não se normalmente pensam de religião oriental e psicologia ocidental como intercambiáveis, é realmente muito surpreendente como compatível e harmonioso dessas duas disciplinas pode ser.
 
Fonte:
Young-Eisendrath, P. e Muramoto, S. (2002) Despertar e Insight: Zen Budismo e Psicoterapia, Brunner-Routledge
 

Atenção plena

 
O termo atenção plenamente alerta ou ainda consciência plena (ing. mindfulness, al. Achtsamkeit, fr. pleine conscience) designa uma atitude mental que se caracteriza por uma atenção ampla e tolerante dirigida a todos os fenômenos que se manifestam na mente consciente - ou seja todo tipo de pensamento, fantasias, recordações, sensações e emoções percebidas no campo de atenção são percebidas e aceitas como elas são[1]. O treinamento e aprendizado dessa forma de atenção, geralmente através de meditação e de outros exercícios afins, permite ao indivíduo uma maior tomada de consciência de seus processos mentais e de suas ações. A atenção plena, originalmente um conceito da meditação budista, desempenha um papel importante em várias formas recentes de psicoterapia, como a terapia comportamental dialética, o programa de redução do estresse baseado na mente alerta e a terapia de aceitação e compromisso.
 

Atenção plena no Budismo (Sati)

Na tradição espiritual budista a quarta das Quatro Nobres Verdades refere-se ao caminho que conduz ao fim do sofrimento. As oito seções em que se subdivide esse caminho, chamado por isso Nobre Caminho Óctuplo, apresentam-se divididas em três grupos, o terceiro dos quais (Samadhi, meditação ou concentração) refere-se à disciplina necessária para se obter o controle sobre a própria mente, e assim, o fim do sofrimento. A disciplina meditativa engloba assim três seções: o esforço correto (Samma Vayamo) para melhorar, a atenção plena correta (Samma Sati) e a meditação correta (Samma Samadhi). Atenção plena designa, nesse contexto, um prestar atenção àquilo que é, de momento a momento. A prática da atenção plena ensina a suspender temporariamente todos os conceitos, imagens, juízos de valor, interpretações, comentários mentais e opiniões, conduzindo a mente a uma maior precisão, compreensão, equilíbrio e organização[2].

[editar]Atenção plena e psicoterapia

O uso de técnicas de meditação budista para fins medicinais-psicoterapeuticos é registrado pelo menos desde o século VIII, quando o monge zen-budista japonês Guifeng Zongmi descreveu, entre seus cinco tipos de meditação, um tipo dedicado às pessoas comuns, completamente isento de objetivos religiosos e voltado à saúde física e mental[3]. Uma maior divulgação da meditação ocorreu, no entanto, apenas na década de 60 do séc. XX, com a vinda do monge budista vietnamita Thich Nhat Hanh[4] [5].
Nos últimos anos um grande número de autores e pesquisadores, entre eles o médico americano Jon Kabat-Zinn e os psicólogos americanos Marsha M. Linehan e Steven C. Hayes, vêm se dedicando ao trabalho de oferecer para a meditação um referencial teórico científico, possibilitando assim seu uso terapêutico independentemente da conceituação religiosa budista e abrindo sua prática para um público mais amplo. A pesquisa mais recente oferece indícios de que uma série de terapias baseadas na atenção plena podem ser bem sucedidas no tratamento de dores crônicas[6], de estresse[7], e de comportamento suicidal recorrente[8].

Referências

  1.  Bishop, S.R., Lau, M., Shapiro, S., Carlson, L., et al. (2004). "Mindfulness: A Proposed Operational Definition"Clin Psychol Sci Prac 11:230–241.
  2.  Bhavana Society Plena atenção hábil - Parte 1.
  3.  Fischer-Schreiber, Ingrid, Franz-Karl Ehrhard, Michael S. Diener & Michael H. Kohn (trans.) (1991). The Shambhala Dictionary of Buddhism and Zen. Boston: Shambhala.
  4.  Thich Nhat Hanh. BBC (2006-04-04). Página visitada em 2008-05-25. "Thich Nhat Hanh is a world renowned Zen master, writer, poet, scholar, and peacemaker. With the exception of the Dalai Lama, he is today's best known Buddhist teacher"
  5.  Thich Nhat Hanh. Time (November 5, 2006). Página visitada em 2008-05-25. "One of the most important religious thinkers and activists of our time, Nhat Hanh understood, from his own experience, why popular secular ideologies and movements?nationalism, fascism, communism and colonialism?unleashed the unprecedented violence of the 20th century.[...] Nhat Hanh, now 80 years old and living in a monastery in France, has played an important role in the transmission of an Asian spiritual tradition to the modern, largely secular West."
  6.  McCracken, L., Gauntlett-Gilbert, J., and Vowles K.E. (2007). "The role of mindfulness in a contextual cognitive-behavioral analysis of chronic pain-related suffering and disability", Pain 131.1:63-69.
  7.  Grossman, P., Niemann, L., Schmidt, S., and Walach, H. (2004). "Mindfulness-based stress reduction and health benefits: A meta-analysis", Journal of Psychosomatic Research 57:35–43.
  8.  Williams, J.M.G., Duggan, D.S., Crane, C., and Fennell, M.J.V. (2006). "Mindfulness-Based cognitive therapy for prevention of recurrence of suicidal behavior", J Clin Psychol 62:201-210.

[editar]Bibliografia

  • Bell, L. G. (2009). "Mindful Psychotherapy". J. of Spirituality in Mental Health 11:126-144.
  • Bishop, S.R., Lau, M., Shapiro, S., Carlson, L., et al. (2004). "Mindfulness: A Proposed Operational Definition"Clin Psychol Sci Prac 11:230–241. (Em inglês)
  • Fischer-Schreiber, Ingrid, Franz-Karl Ehrhard, Michael S. Diener & Michael H. Kohn (trans.) (1991). The Shambhala Dictionary of Buddhism and Zen. Boston: Shambhala. ISBN 0-87773-520-4
  • Germer, Christopher K.; Siegel, Ronald D. & Fulton, Paul R. (2005). Mindfulness and Psychotherapy. The Guilford Press. ISBN: 1593851391
  • Grossman, P., Niemann, L., Schmidt, S., and Walach, H. (2004). "Mindfulness-based stress reduction and health benefits: A meta-analysis", Journal of Psychosomatic Research 57:35–43.
  • Hanh, Thich Nhat (2004). Os cinco treinamentos para a mente alerta. Vozes. ISBN: 8532630308.
  • Kabat-Zinn, John(2009). Achtsamkeit für Anfänger. Freiamt a. Sch.: Arbor-Verlag. ISBN 978-3-936855-61-6
  • McCracken, L., Gauntlett-Gilbert, J., and Vowles K.E. (2007). "The role of mindfulness in a contextual cognitive-behavioral analysis of chronic pain-related suffering and disability", Pain 131.1:63-69.
  • Melemis, Steven M. (2008). Make Room for Happiness: 12 Ways to Improve Your Life by Letting Go of Tension. Better Health, Self-Esteem and Relationships. Modern Therapies. ISBN 978-1-897572-17-7
  • Williams, J.M.G., Duggan, D.S., Crane, C., and Fennell, M.J.V. (2006). "Mindfulness-Based cognitive therapy for prevention of recurrence of suicidal behavior", J Clin Psychol 62:201-210.
  • Williams, Mark, John Teasdale, Zindel Segal, and Jon Kabat-Zinn (2007). The Mindful Way through Depression: Freeing Yourself from Chronic Unhappiness. Guilford Press. ISBN 978-1-59385-128-6.

[editar]Ligações externas

 
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Aten%C3%A7%C3%A3o_plena
 
 
Educação e Budismo 

Educação e Budismo (Psicoterapia)


 
"A Espiritualidade Budista e a Sombra Psicológica e suas Relações com a Educação e Formação Humana - Parte 1"

Irei propor a todos nós uma reflexão e associação entre Budismo, Psicologia e Educação. De início, são áreas da vida que me interesso por terem contribuições para a formação humana.
Mas por que Budismo e não outra filosofia oriental, ou mesmo ocidental?

Na Psicologia Clínica, existem abordagens de conhecimento que podem e devem ser utilizadas para melhor compreensão do ser humano. Muitos Psicólogos Clínicos, originalmente treinados nas abordagens ocidentais de psicoterapia, têm sido atraídos pelo caráter introspectivo da "psicologia budista", que é vista como um suporte capaz de auxiliar o homem em sua busca do significado da vida e, na tentativa de compreensão de si mesmo, da mente e da natureza da experiência.

A Psicoterapia Transpessoal é uma delas, e decorre de uma expansão ou ampliação do campo da pesquisa psicológica. Tem sido profundamente influenciada pelo Budismo, um dos mais antigos sistemas médico-filosóficos conhecidos, cujo conteúdo ético, religioso e espiritual é de grande profundidade. Porém, inicialmente irei expor as interlocuções entre Budismo e Educação; posteriormente incluindo como a Psicologia foi se apropriando de novos olhares para integrar o ser humano.

Para uma compreensão adequada das possíveis contribuições do budismo à educação, é necessário que noções centrais de ambos os campos sejam desenvolvidas. Não se pode pensar na educação, quer do ponto de vista teórico, quer do prático, sem pressupor que a mesma está fundada na admissão de que o ser humano deve atingir uma determinada condição que ainda não se encontra desenvolvida, atualizada ou presente. Segundo o Prof. Dr. Policarpo Junior, o significado de "Educação", em sua forma profunda e ampla, é trazer de dentro para fora, é saber conviver consigo mesmo e com os outros, tendo aí uma contribuição grega, no qual crescersignifica crescer juntos, com todos, com a própria 
polis.

A ciência sofreu, ao longo dos séculos, uma conversão progressiva ao estudo daquilo que é, ou seja, do que existe independentemente do sujeito, e que está despido de toda consideração quanto ao que deve ser. Assim, para fazer referência apenas às últimas décadas, algumas das finalidades educativas apregoadas com muita influência no Brasil foram: a produção de capital humano, a revolução ou transformação social, a formação para a democracia, a cidadania, as competências e a formação do sujeito aprendente (este último principalmente e quase unicamente, e olhem que nem estou me referindo às escolas públicas). Não se deve negar a pertinência de nenhum desses objetivos, nem mesmo sua relação determinada com a tarefa educativa. No entanto, é importante reconhecer que todas essas finalidades se originam de preocupações exteriores à educação, ou de outros campos de saber - como a economia, sociologia, ciência política, psicologia - que não a própria educação. A teorização sobre o educar, muitas vezes termina por consagrar a subordinação da educação aos ditames sociais e culturais, legitimando assim a falsificação do conceito e da prática educacionais.

Porém, a dimensão do conhecimento e seu princípio orientador é a busca da verdade (ou deveria ser). Tal princípio está também relacionado à condição da vida humana. Educar para o Amor seria, então, o maior desafio a se conseguir na Educação; e, caso se consiga isto, o objetivo da educação como "Conviver consigo mesmo e com os outros" terá sido alcançado. 
Mas, como os homens em meio ao mundo encontram-se ainda na imperfeição - e em um estado que por si só justifica a existência da educação - esta própria finalidade existente acima não pode, portanto, constituir-se em representante final e exclusiva do critério da utilidade, porque aquilo que se configura útil no estado atual não necessariamente reveste-se do sentido daquela utilidade aliada à busca da verdade. Então, a dimensão a ser ressaltada na educação, como teoria e prática formativas da humanidade no homem, deve ser o exercício da introspecção.

Quando a vida pessoal é vivida com sabedoria, a tendência é perceber que, de fato, não há separação entre introspecção e ação no mundo. Por meio da auto-reflexão, isto é, os hábitos mentais e comportamentais, os sentimentos e emoções podem se tornar progressivamente mais conhecidos, e com isso é possível que o indivíduo transforme seus limites, fraquezas, medos, potencialidades e virtudes em algo familiar, refletindo sobre eles e passando de fato a conhecê-los (e não apenas vivendo como seu refém). Em outras palavras, em Psicologia Transpessoal, isso significa integrar a sua sombra. Por intermédio desse exame interno minucioso e freqüente, torna-se possível à pessoa contemplar com serenidade suas atitudes e hábitos mentais, e gradualmente agir de acordo com os princípios da própria auto-reflexão e contemplação; e, embora a coerência não seja atingida imediatamente, surgirá aos poucos a percepção clara dos aspectos pessoais que resistem a se integrar, a fim de que a pessoa possa vir a aceitar-se como é, e assumir de fato a direção de si com plena lucidez, compreensão e coerência. A partir dessa integridade surge a idéia de uma unificação progressiva consigo mesmo (individuação), compreendida como o processo de superação contínua das diversas cisões interiores, o que permite que se dissipem muitas das oposições antes consideradas como conflito, como observou Carl Jung em seus estudos.Os aspectos vistos até aqui se referem à formação humana, aqui entendida como a idéia de que a humanização é um processo. Nosso nascimento biológico, e mesmo as diversas formas de socialização universalmente disponíveis não são, por si só, garantia de realização puramente humana. Formação humana é um modo próprio de viver que se constitui pelo reconhecimento dignificante em relação aos outros seres humanos e à natureza, de modo a ter atitudes de compromisso, respeito e cuidado nos âmbitos pessoais, interpessoais, comunitários, sociais, naturais e ambientais.

Para o budismo, o entendimento da formação humana consiste na dissolução progressiva da ignorância básica dos seres. Para essa tradição, a natureza fundamental de todos os entes permanece pura, compassiva, amorosa e equânime, em meio às suas inúmeras ignorâncias, de um modo completo, inalterado e incessante. Para facilitar a compreensão e permitir a comparação dos elementos pertencentes a tradição budista com o escrito acima, é preciso pontuar algumas observações sobre o budismo e as contribuições que poderia ter nas escolas ocidentais, assim como as orientais:

A primeira observação budista se refere ao sofrimento universal dos seres humanos e não-humanos. Esse entendimento alcançado pelo Buda antes mesmo de atingir sua liberação completa foi o principal motivo que o moveu em sua jornada espiritual de autodescobrimento. O Buda descobriu que o sofrimento alimenta-se de causalidades surgidas da ignorância dos seres quanto a sua natureza intrínseca; no entanto, se estes conseguissem reconhecer tal natureza e nela repousassem com estabilidade, poderiam superar seus enganos e remover as causas desses sofrimentos.

Ao reconhecer a profundidade da origem do sofrimento, a tendência dos ensinamentos budistas é de nutrir um sentimento de compaixão pelos seres, por compreender a condição de igualdade entre aquele que sobre isso reflete e todos os demais seres. Nas palavras do Dalai Lama, essa compreensão aparece como a base da compreensão e agir éticos, que não precisam estar associados a nenhum credo ou tradição, mas podem plenamente ser a base de uma ética leiga, a qual se afirma do seguinte modo: "Todos os seres têm o mesmo direito à felicidade e à libertação do sofrimento".

Dessa forma, ato de reconhecer, acolher e contemplar a condição de sofrimento de todos os seres e seu desejo de felicidade proporciona o desenvolvimento do sentido de igualdade e o surgimento de um sentimento compartilhado: a compaixão. Assim como naturalmente, sem nenhum esforço, qualquer um é capaz de se comover com um amigo ou parente que sofre, ou alegrar-se com seu êxito, do mesmo modo a identificação pessoal e vivenciada com a condição universal dos seres para experimentarem o sofrimento ou a felicidade, que é o pressuposto segundo o qual, de acordo com o ensinamento budista, se pode nutrir uma compaixão progressivamente equânime e profunda para com todos. Assim, a compaixão é o resultado verdadeiro da realização do princípio da igualdade, na tradição budista.

Outra dimensão observada pelo budismo é a da verdade. O tema da verdade é de grande complexidade em todas as tradições filosóficas, e no budismo não se constitui exceção. De acordo com o Prof. Dr. Aurino Lima, a educação formal ocidental prioriza os ensinamentos escolares como a verdade única, impedindo a ampliação para o sentir, e para outros ensinamentos que não aqueles passados pelo professor na escola.

Na maioria das escolas de filosofia budista se reconhece a existência de duas verdades: uma verdade absoluta e uma verdade relativa. Também há variações no entendimento dos sentidos dessas verdades de escola para escola. Adotam-se aqui, entretanto, os sentidos das verdades relativa e absoluta tais como foram concebidos e propagados pela escola de pensamento 
Mahayana e a escola Madhyamika (ou Madhyamaka), que teve como seu fundador um dos maiores expoentes, o mestre espiritual e erudito Nagarjuna. Por meio da compreensão da natureza absoluta e de sua permanente inspiração na vida pessoal e social, o budismo admite que os seres podem finalmente se liberar das causas do sofrimento.

Todos admitem sem questionamento a realidade independente do mundo, das coisas e seres a sua volta. A própria ciência é uma criação sofisticada, que consiste em demonstrar de forma inequívoca a natureza e as propriedades das coisas e fenômenos de um ponto de vista fundamentalmente objetivo, isto é, de um modo que não se restrinja a simples opinião ou preferência. Neste âmbito existe a verdade relativa. Esta se refere, portanto, a um mundo convencional.

Com o fato de os seres humanos poderem visualizar, compreender, apreciar e interagir com o mundo através da sua sensorialidade e estrutura mental, é possível operar a distinção entre erro e acerto, entre verdade e falsidade. No entanto, não é preciso muita reflexão para discernir que tal verdade é relativa à experiência humana, e possível apenas em determinados tempos históricos e contextos culturais. Essa análise da verdade relativa, para o budismo, não se aplica apenas aos objetos materiais, mas igualmente às sensações, percepções, pensamentos, formulações abstratas e ao próprio "eu" humano. Assim, a sensação humana de frio ou calor é totalmente relativa. Aqui nem cabe ressaltar o quanto as emoções e a mente são passíveis de relatividade. Mas, em síntese: corporeidade, emoções e pensamentos não gozam de existência intrínseca, e nenhum deles em particular pode definir a natureza do "eu".

Onde se poderia, portanto, encontrar o aspecto da verdade absoluta?

Admitindo-se que toda dualidade entre sujeito e objeto, sejam eles quais forem, significa uma verdade relativa, conclui-se que a verdade absoluta ou última não é algo que possa ser encontrado dessa maneira. A verdade absoluta pode ser experimentada pela percepção não-dual, mas ela mesma não se restringe à experiência. A verdade absoluta é algo que não pode ser apreendida de forma independente da experiência ou da condição do próprio observador. Assim, a verdade absoluta é a própria condição, sem condições, do surgimento dos fenômenos; a dimensão sem-dimensão do surgimento de sujeito e objeto; a vacuidade de fenômenos que também se expressa nos próprios fenômenos. Surgir, estabilizar-se e extinguir-se são aspectos da natureza relativa, que, no entanto, se sustenta na natureza absoluta: que não nasce, não se estabiliza nem se desestabiliza, nem morre. Apenas É.

O principal motivo da compreensão e estabilização da verdade absoluta tem por meta a ação desapegada e compassiva em meio ao mundo e aos seres, visando o bem-estar de todos eles, os quais também são a expressão da verdade absoluta.

Nota-se assim que os ensinamentos budistas - embora utilizando linguagem distinta das teorias clássicas da educação no ocidente - convergem em seus princípios com a meta educacional. Mais do que simples coincidência, tal convergência parece surgir devido à natureza do objeto educacional, que é a formação humana. Desse modo, o fundamental para o âmbito educativo não parece ser a contribuição de uma tradição ou teoria em particular, mas, principalmente, a clareza sobre os princípios que configuram a natureza do educar. Sem estes, a própria idéia de possíveis contribuições de outros campos teóricos, científicos ou espirituais pode mais atrapalhar do que trazer benefícios à teoria e à prática da formação humana, ou seja, a Educação.

Por Paula Roberta


Fontes: Palestra: A Espiritualidade Budista e a Sombra Psicológica e suas Relações com a Educação do Prof. Dr. Aurino Lima Ferreira e Prof. Dr. José Policarpo Júnior dois fundadores do Núcleo de Pesquisa em Educação e Espiritualidade na UFPE. Palestra ministrada no Espaço Cultural Cor do Coque Instituto de Formação Humana, 17 de Setembro de 2009. IFH: Instituto de Formação Humana
DALAI LAMA, XIV. O Caminho para a Liberdade. Tradução: Beatriz Penna. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2003.
PADMA SAMTEN, Lama. 2000. Os Doze Elos da Originação Interdependente.
(Ensinamentos orais transmitidos em agosto e dezembro de 2000, na Fundação Peirópolis, e em Guarulhos, SP, transcritos por Eliane Steingruber). São Paulo: mimeo.
POLICARPO JUNIOR, José. 2004. A Individualidade - concepção negativa e positiva, segundo o budismo

Fonte:http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=9228

 

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