Imagens de Buda e os 8
grandes Bodhisattvas da cultura budista
20 janeiro, 2020 Milene Sousa
Sempre que a cultura budista é
o tema central de uma arte decorativa é provável que nela consista elementos
iconográficos repletos de simbolismos atrelados ao caminho do meio (majjhima
patipada) que levou Siddharta Gautama a tornar-se Buda
Shakyamuni (o Buda Histórico) com a iluminação. No Budismo
Mahayana, esse despertar para a percepção plena do universo foi buscado por
alguns discípulos chamados de Bodisatvas ou Bodhisattvas que
em sânscrito significa seres sencientes que buscam o despertar.
O desejo de atingir o estado
Buda (bodhicitta) os tornaram propensos a vivenciar em
plenitude a sabedoria e a compaixão por tudo
o que existe. E quando alcançaram o mais alto nível tornam-se Bodhisattvas-mahasattvas,
o estado sublime mais próximo de Buddha, puderam transmitir
qualidades importantes da filosofia budista para que todos os
seres se iluminassem também.
Dentre o séquito de Buda, 8 Bodhisattvas estão
entre os mais relevantes e, embora não estejam tão presentes na arte
budista, inspiram as imagens de Buda que conhecemos na
atualidade. Isso ocorre porque as representações dos Bodhisattvas normalmente
não são icônicas, ou seja, não apresentam cor, postura ou atributos. Ainda
assim, para cada um escolhemos um tipo de Buda que se conecta
com suas essências e apresenta os valores que trouxeram para o mundo.
Mañjushri - O Buda da Sabedoria
A estátua de Mañjushri é a
personificação da sabedoria Buda na decoração de interiores.
Manjughosa, Glória Gentil
e Voz Gentil são alguns outros nomes de Mañjushri, o Bodhisattva da
Grande Sabedoria e Aquele que é Esplêndido e Auspicioso. Venerado na
Índia antes do século II d.C., período em que textos Mahayana foram
traduzidos pelo monge Lokaksema para o chinês, é considerado a
personificação de prajna -, ou seja, do discernimento, da
sabedoria e da clareza perfeita.
É também conhecido como o príncipe do Dharma,
que com a espada flamejante vajra liberta
os seres da ignorância, dos apegos e das ilusões para permitir a ascensão ao
estado iluminado. O dourado da escultura decorativa é extremamente simbólico e
enfatiza que no Budismo a sabedoria é uma das
virtudes mais valiosas que existem.
Vajrapani - O Buda do Poder
O Buda azul é a personificação
da cura, dos antídotos para os venenos da alma.
Vajrapani é a
personificação da capacidade e do poder de Buda, que, em outras
palavras, é a força que converte e protege o Budismo diante
dos obstáculos. É um dos primeiros e mais importantes Bodhisattvas,
embora não seja, aparentemente, meditativo e sereno. Sua presença na decoração
zen é centenária, marcada pela imagem de um guerreiro cercado pelo
fogo, um símbolo de transformação. É também por isso que representa o protetor
de Buda na literatura budista e inspira concentração e
determinação nas práticas meditativas.
Assim como outros Bodhisattvas (vide Bhaisajyaguru), é
constantemente interpretado na arte budista com a cor azul,
sobretudo no Tibete. O azul escuro é associado ao mito
de Amrita, o elixir da vida, onde o ingere contaminado pelo
veneno Halahala. É a simbologia da cura, de que tanto o veneno
quanto seu antídoto pode ser encontrado dentro de cada um.
Avalokiteshvara - O Buda da Compaixão
Avalokitesvara assume diferentes formas, como a feminina Kuan Yin, para aliviar o sofrimento de todos os seres.
Em sânscrito, Avalokitesvara pode
ser traduzido como o “Mestre que contempla o mundo” e o mesmo sentido de
compaixão e amorosidade é dado a muitas outras manifestações deste Bodhisattva da
Compaixão Infinita. Um dos mais adorados no Budismo, por vezes
considerado avatar de Amitabha (Buda da Luz Infinita),
é apto a assumir diferentes formas a fim de aliviar o sofrimento de todos os
seres e guiá-los à iluminação. É devido a essa capacidade de alcance que o mito
que o circunda o caracteriza com mil braços e 11 cabeças.
No Zen Budismo é simbolizado
por Kanzeon ou Kannon Bodhisattva,
reverenciado no Sutra de Lótus da Lei Maravilhosa. Já na tradição
chinesa é chamado de Kuan Yin ou Guan
Yin e é retratado na figura feminina como “Aquela que ouve os lamentos
do mundo” ou, simplesmente, a Deusa da Compaixão e Misericórdia.
Sendo um poderoso símbolo de pureza, sua imagem promove a purificação do ser
para o despertar.
Maitreya - O Buda do Futuro
A cabeça de Buda Gordo Feliz
representa a amorosidade infinita e a benevolência de Maitreya Bodhisattva.
O único Bodhisattva que
ainda não vivenciou a experiência terrena chama-se Maitreya -
o amoroso em sânscrito. Ele é o Buda do Futuro, sucessor de Buda
Shakyamuni, segundo a sua própria profecia. Nela, Buda descreve
que quando se iluminar Maitreya, que vive no reino celestial
de Tusita, contemplará a impermanência das coisas ou a natureza transitória
do mundo em um período de longevidade, facilidades e alegrias celestiais.
A bondade amorosa e a benevolência com todos os
seres são a essência deste Bodhisattva, cujas representações
imagéticas variam conforme o artista e a vertente budista. Não é incomum vê-lo
associado à figura do Buda Gordo ou Buda Sorridente (Shichi
Fukujin), um dos 7 deuses japoneses da boa sorte. No Budismo
Chinês, Hotei é outra manifestação comumente associada à Maitreya,
que é caracterizado sentado, esperando sua vinda ao mundo.
Samantabhadra - O Buda Primordial
A placa de madeira com Budas
inspira a ideia de que a iluminação é conquistada com o cultivo da sabedoria.
As orações de aspiração e as oferendas na
prática budista são especialmente guiadas por Samantabhadra, o
Digno Universal ou Bodhisattva da Bondade Universal.
Seus 10 votos são representativos da missão de um Bodhisattva e
incentivam os budistas a lapidar a conduta com humildade, respeito e compaixão.
A enfática prática contemplativa e as virtudes o tornaram parte da Trindade Shakyamuni ao
lado de Gautama Buddha e Mañjusri.
No Budismo Esotérico (Vajrayana), muito
popular no Tibete, assume a forma do Buda Primordial, a
personificação da consciência divina e do conhecimento. Não obstante é
retratado segurando ou sentado sob uma flor de lótus, símbolo de
pureza e elevação espiritual. Na interpretação artística mais distinta aparece
com uma contraparte feminina, Samantabhadri, simbolizando juntos a
sabedoria que pode ser cultivada.
Sarvanivarana-Vishkambhin - O Removedor de Obstáculos de Buda
Os mantras de Sarvanivarana-Vishkambhin são relevantes para quem almeja meditar livre de distrações.
Sarvanivarana-Vishkambhin é
considerado o Bodhisattva Removedor Completo de
Obscuridades devido a capacidade de purificar as ações, remover os
obstáculos internos e externos e promover uma meditação bem-sucedida.
A palavra Nivarana que integra seu nome refere-se às cinco
distrações ou obstáculos mentais (kleshas) que obstrui para que todos
possam alcançar a iluminação. São elas: a preguiça e torpor (thina-middha),
o desejo (kamacchanda), a má vontade (vyapada), a dúvida (vicikiccha)
e a inquietação e arrependimento (uddhacca-kukkucca).
A qualidade purificadora de Sarvanivarana-Vishkambhin converte
seus mantras em auxílios poderosos para melhorar o foco e meditar sem
distrações. É por isso que muitas vezes é retratado em postura de
meditação (asana) sobre uma flor de lótus como
ilustra este Buda na mandala de madeira para
decoração de parede.
Kshitigarbha - O Buda da Fertilidade
Tanto cintamani quanto a flor
de lótus transformam o caminho daqueles que buscam a iluminação.
A maioria dos Bodhisattvas deixaram
de se tornar Buddhas para auxiliar todos os seres a alcançar a
iluminação. Assim é o Bodhisattva da Fertilidade da Terra, Kshitigarbha,
também considerado o Tesouro da Terra, o Ventre da Terra ou a Essência da
Terra. Ele se dedica a acessar os lugares mais difíceis, inclusive o inferno (o
mais inferior dos 10 reinos do Dharma), para amparar todos os que
sofrem. Não é de se surpreender que sua imagem seja encontrada abrigando as
cinzas dos falecidos nos cemitérios e monastérios.
Nas tradições budistas da China e
do Japão é conhecido como Dizang Pusa ou Jizo, o
Protetor das Crianças, respectivamente. Sua escultura decorativa se assemelha a
de um monge, dado a simplicidade, que segura a pedra cintamani na
mão - uma joia que tem o poder de iluminar a escuridão. E é por isso que esta luminária
de mesa de Buda foi a escolhida para traduzir a
essência deste ser iluminado.
Akashagarbha - A Personificação das Bênçãos de Buda
detalhe que forma a iconografia de Buda tem importante significado na cultura budista.
O Bodhisattva Akashagarbha representa
o “Tesouro do Espaço Ilimitado”, o “Núcleo do Espaço” ou o “Armazenamento do
Vazio” - contrapondo a associação à terra de seu irmão gêmeo de Ksitgarbha.
Ele simboliza a benção da Sabedoria Perfeita de Buda que
há em tudo o que existe, sendo tão ilimitada quanto o espaço. Através dela é
possível purificar transgressões para erradicar a ignorância e desenvolver
discernimento.
A crença de que entoar seu nome, mantra ou
ter sua imagem promova a sabedoria e a criatividade o tornou o Bodhisattva patrono
dos artesãos. Akashagarbha também tem extrema importância na
fundação do Budismo Shingon, sendo uma das 13 divindades da Escola
da “Palavra Verdadeira”. É correspondente a esses méritos que constantemente é
ilustrado com muita ornamentação; embora, cada detalhe iconográfico, assim como
a cabeça de Buda, apresenta sua própria história e simbologia no Budismo.
Ainda que não possua a imagem de um Bodhisattva para decoração de
interiores cabe a você realizar o exercício de perceber em tudo o que
existe a essência que promovem na filosofia budista. Nós nos
atentamos às imagens de Budas, mas há outras artes zen em
nossa loja online que
igualmente transformará o ambiente e te levará mais próximo do caminho da
iluminação.
Namastê!
Milene Sousa - Arte & Sintonia
Fonte:https://www.artesintonia.com.br/blogs/blog/imagens-de-buda-e-os-8-grandes-bodhisattvas-da-cultura-budista
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